Chamo o vento e peço-lhe,
que sopre de mansinho,
e te encontre entre a multidão deste mundo.
Que te solte os cabelos,
e te envolva no bafo quente do verão,
que lentamente te empurre,
para aqui,
onde me encontro e te espero,
para com os meus braços te envolver.
Eu sei que é preciso acreditar,
eu sei que temos de confiar,
alguém terá de ser de confiança,
mas depois de tantos dislates,
depois de tanta traição,
quando o engrandecimento pessoal,
transcende o engrndecimento do País,
quem de boa fé confia cegamente,
em quem tem vindo a enganá-lo,
consecutivamente,
e já lá trinta e oito anos.
Confiar confio,
estou disposto a isso,
mas agora, depois de tudo isto,
só quando o exemplo vier de quem o deve dar.
O vento soprava sem pressa,
a vela enfunada com o seu sopro,
enchia e levantava a proa do pequeno veleiro.
tão pequeno que só o tamanho da vela lhe dava importância.
Mas não sabia o que um pequeno coração,
encerrado no seu casco,
debruçado sobre as ondas que cortava,
pode também encher-se de felicidade,
pelo simples soprar do vento,
nas suas velas enfunadas.
Olho para dentro,
bem no fundo do meu peito,
e a tua ausência,
faz-se presença,
num cantinho do meu coração.
Conhecia-te e não te conhecia,
e porque a vida nos empurrou,
para este caminho inesperado,
pusémos à prova nossa resistência,
aos caminhos tortuosos,
aos imprevistos desta vida,
e foi mais forte que nós,
não resistimos ao embate.
Irados contra a vida que não têm,
vociferam.
Contra todos os que os antecederam.
Vociferam.
Esquecendo-se que neles se encontram os seus,
e tantas outras coisas.
Vociferam.
Porque tiveram uma infância talvez feliz,
onde nada lhes faltou e até tiveram demais.
Vociferam.
Porque os anteriores estiveram na guerra,
criaram uma democracia,
e para que tivessem uma melhor vida; sacrificaram-se.
No entanto soçobram às primeiras dificuldades,
Não lutam pelo país em que vivem,
Não lutam pela vida que querem,
e como solução,
Vociferam.
"Pegaram no lanche e nas cocas e foram para debaixo da mangueira que estava mais sombrinha, escolheram os lugares, sentaram-se à volta do tronco grosso da árvore e cada um retirou do prato um pão. Um gole de Coca-Cola e uma dentada no pão, em uníssono, deixaram sair pelas cordas vocais a sua satisfação, está mesmo bom, apetitoso, dá duas a cada um. Maravilha. Depois disto, construir gaiolas não custa nada. Durante um quarto de hora só se ouviu o mastigar do pão e o engolir da Coca-Cola, uma vez por outra, um som indeterminado soltava-se daquelas gargantas, mas não queriam dizer nada, era só satisfação mesmo.
Olhavam para o pão, davam uma trinca, mastigavam e olhavam para a copa da árvore que gentilmente os protegia do sol. Até as árvores eram suas amigas, pensaram. Meia, tens aqui umas mangas madurinhas, será que não as comes? Andas a deixar estragar esta fruta boa? Não dá para comer todas de uma vez, vamos apanhando e comendo quando calha. Popilas! Com este aspecto tão doce não parava de as comer. Acho que vou apanhar umas para sobremesa deste lanchinho, vocês não querem umas? Vou trepar, diz Branquelas. Nada disso, eu é que vou, a mangueira é minha e nem se sentiria bem a ter outras pessoas a subir por ela, remata Meia de Leite, só mais um golinho e já lá vou acima retirar algumas para trincarmos."
E cresce uma raiva nos dentes,
ampliando o mal estar que se sente.
E cresce um ódio nos olhos,
que nos tolda o olhar.
E cresce uma força da impotência,
que não sabemos onde nos leva.
E cresce a vontade,
de tudo isto mudar.
Um momento de calma,
uma tarde amena de verão,
uma cadeira estirada,
e um bom livro na mão.
Um momento fugaz,
uma tarde de silêncio,
um livro de excelência,
fiapos de felicidade.
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