Já não há montras livres
canetadapoesia
Em cada uma um corpo, inerte a esta hora da noite,
em cada uma um recanto, onde se abrigam,
e em todas elas uma luz que lhes ilumina a noite,
uma protecção frágil que os abriga,
sem que seja uma segurança de abrigo.
É só um resguardo da noite embrulhada nas estrelas,
que do alto do seu distanciamento,
tudo vêem, tudo apreciam, de nada gostam,
mas iluminam os corpos tristes que na sua protecção se abrigam.
E não há mais montras vagas, todas estão ocupadas,
e nós estamos também, ocupados, cabisbaixos,
nada vemos do que se passa ao nosso redor,
mesmo quando por azar, roçamos tão de perto,
que não só lhes sentimos a respiração,
como testemunhamos a sua profunda miséria.
Estamos tão preocupados em sobreviver,
que não reparamos que outros já se preocuparam também.
E por isso, tantas montras ocupadas,
tão poucas vagas entre elas.