As capacidades que ela tem são inúmeras,
nem eu as consigo enumerar,
pois esta língua consegue superar-se e,
melhor ainda, supera-me a mim próprio.
É vê-la, a distender-se, a enrolar-se,
em sucessivas acrobacias,
saindo boca fora ou encolhendo-se,
aquietando-se ou buscando recônditos inesperados.
Estica-se e prolonga-se para alcances quase inatingíveis,
enrosca-se e enrola-se ao redor de qualquer doçura,
em profundidade até me surpreende,
penetra fundo, alonga-se e lambuza-se,
não há cremosidade que lhe escape,
e como ela gosta!
Adora envolver-se, penetrar e lamber,
mantendo as pupilas gustativas,
em permanente e deliciosa actividade.
Haverá quem não goste?
Há vários tipos, é certo,
mas quando são cremosas e estão quentinhas,
vê-se o creme a derreter e,
não há língua que resista e vai-se a ele,
em profundas lambidelas, besunta-se, degusta,
sente o agridoce que se lhe derrete na boca,
ainda lambe os beiços com tal delícia,
nada como uma bola de Berlim, cremosa e quentinha.
Dia de praia,
pé na areia,
a caminho da água,
ali tão perto,
tão quente e apelativa,
sem restrições,
mergulhar-lhe nas entranhas,
fundo, sentindo o âmago,
de tão profunda introdução,
em tão cálido local.
Podia admirar-se o conjunto,
era agradável à vista,
dir-se-ia mesmo que
era exuberante,
na postura, na forma das formas,
na estrutura que as suportava,
em cada balanço,
um passo à frente ou um passo atrás,
sentia-se que tudo poderia desabar.
Na verdade, era só uma primeira impressão,
porque quando os olhos se depositavam,
naquele ser exuberante,
e lhe percorriam a estrutura,
em busca de falha,
que propiciasse a queda,
logo se esbugalhavam de admiração,
porque ali, nada caía, nada tombava,
tudo estava no seu lugar,
fixamente agarrado à estrutura exuberante.
Em forma de coração
fazes boquinha,
rola-te uma lágrima na face,
com a facilidade da gota de água,
choras e estranhas,
o ser barbudo que,
enternecido te afaga,
e sorris,
com as carícias com que te brindo.
Uma Princesa,
pequenina ainda,
mas tão amorosa.
Que te aquece o corpo não duvido,
está forte, intenso e muito quente,
mas o que não sabes nem imaginas,
é que enquanto o teu corpo aquece,
a minha alma resplandece.
Olhas-me intensamente,
de cada vez que em ti pego,
e desses olhos negros,
sai a chama de um olhar,
que me deslumbra.
Esbracejas no ar,
e tudo queres agarrar num repente,
os óculos ou mesmo a barba,
fechas a mãozinha,
como uma tenaz de força e destreza,
puxas e arrancas,
como a mão de um tractorista,
e no entanto,
tão pequenina que és,
e fitas-me,
com esse negro e intenso olhar.
O que me preocupa,
sobretudo,
é ver a madrugada acordar,
sem que eu,
tenha aquietado a noite.
Que não posso,
não estou concentrado,
e nesta minha desvinculação,
com a realidade que me queres dar,
estou longe, muito longe,
por isso,
hoje não, que não estou em condições,
de responder cabalmente,
às exigências que de mim esperas,
e eu, que não quero hoje,
porque não quero desapontar-te,
fico-me pelo olhar,
e vejo-te como se o quisesse hoje,
mas não pode ser,
porque hoje,
não quero desapontar-te.
Estou longe, mas tão perto,
longe da vista, perto do coração,
essa palavra tão nossa,
que abunda na alma e na imaginação,
presente em todos os momentos,
pesa mais que nunca.
Saudade!
Saudades das origens, das gentes,
de uma terra a que chamamos nossa,
e que gostaríamos de ter, agora,
aqui mesmo ao lado do coração.
Em Zadar, no ponto mais proeminente,
sentado, esperava o momento para descobrir e,
nele depositar um olhar de surpresa e admiração,
pela multiplicidade das cores,
com que o adormecer do astro rei,
me brindaria o prazer de o olhar.
O mais belo pôr de sol do mundo, diziam,
testemunhei a beleza do seu deitar,
suave mas constante, indizível,
uma panóplia de cores,
vermelhas, laranjas e até brancas sobre azul,
uma maravilha da natureza com que a alma se encanta e,
entre as centenas de pessoas presentes,
um “bruá” final, coroou o apagar dos raios luminosos que, lá longe,
bem ao fundo do mar e onde a vista mal alcança,
acabavam de se tapar com o manto de arminho,
que a noite do Adriático sobre eles lançou.
O poder, a magia e beleza da natureza,
ali, à vista dos olhos ávidos do mundo.
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