Língua
canetadapoesia
As capacidades que ela tem são inúmeras,
nem eu as consigo enumerar,
pois esta língua consegue superar-se e,
melhor ainda, supera-me a mim próprio.
É vê-la, a distender-se, a enrolar-se,
em sucessivas acrobacias,
saindo boca fora ou encolhendo-se,
aquietando-se ou buscando recônditos inesperados.
Estica-se e prolonga-se para alcances quase inatingíveis,
enrosca-se e enrola-se ao redor de qualquer doçura,
em profundidade até me surpreende,
penetra fundo, alonga-se e lambuza-se,
não há cremosidade que lhe escape,
e como ela gosta!
Adora envolver-se, penetrar e lamber,
mantendo as pupilas gustativas,
em permanente e deliciosa actividade.
Haverá quem não goste?
Há vários tipos, é certo,
mas quando são cremosas e estão quentinhas,
vê-se o creme a derreter e,
não há língua que resista e vai-se a ele,
em profundas lambidelas, besunta-se, degusta,
sente o agridoce que se lhe derrete na boca,
ainda lambe os beiços com tal delícia,
nada como uma bola de Berlim, cremosa e quentinha.