Poderias passar por ser igual,
a tantas outras,
pequenas diferenças,
fazem a distinção,
essenciais a esta separação,
o porte,
a elegância,
o andar,
o sorriso,
e essa felicidade estampada no rosto.
Pela silhueta se percebia o conteúdo,
rico em cor e textura, estonteante em odor e,
terrivelmente erótico, pelos sabores que proporcionava.
Sem dúvida um despertador da alma,
essa insaciável caçadora,
de prazeres mundanos e deliciosos.
Meteu-lhe o nariz pelo largo e apropriado orifício,
aspirou-lhe o aroma, um autêntico bouquet florido,
e, pelas bordas cirandou, deixando que a língua,
ávida de satisfazer o desejo,
por ali penetrasse sem que inicialmente,
aprovasse tal delícia de esquisito sabor,
pelas bordas espalhada,
penetrando então, fundo, orifício dentro,
até ao âmago onde, de um trago,
satisfez o prazer do vinho.
Sabes avô? Gosto muito, muito de ti!
Assim repentina e de rompante,
deixa-nos envaidecidos mas logo imaginamos o que,
com tanto tacto e jeitinho virá de seguida sem dúvida.
Achas que podemos ir comer um gelado?
De morango que eu gosto!
Pois já tardava a justificação de tanto amor e carinho,
declarado em hora tão importante como aquela em que o avô,
recolhe cada uma das netas dos alvéolos que lhes destinam.
Uma ternura de carinho votado ao avô,
pela mais velha das netas, a sabichona,
que a mais nova ainda nem fala,
mas para lá caminha também,
com a escola toda e ainda mal se movem.
De manhã sai de casa,
de bicicleta se aventura,
e pela cidade vai pedalando,
a deusa da bicicleta,
peça manhã,
que à tardinha,
quase a juntar-se à noite,
a deusa do pedal,
qual cinderela se transforma,
na deusa do desejo,
que na noite que se avizinha,
atormenta a libido,
desperta a imaginação e,
acompanha os sonhos,
que iluminam a noite,
e alimentam a solidão.
A carne é fraca e nem sempre o desejo é célere,
mas o piropo que se afina,
com a facilidade com que os olhos fazem a descoberta,
não se engasga e solta-se,
vibra aos ouvidos e percorre o etéreo,
num segundo atinge os sentidos de quem dele precisa,
para se sentir a rainha do dia,
e quando chega, mesmo inesperado,
um sorriso tímido aflora aos lábios,
do alvo de tal manifestação.
“Vem comigo, vamos visitar o paraíso”.
Entrou pela janela,
iluminou o quarto,
foi-se espalhando,
esquadrinhou todos os metros quadrados,
finalmente repousou,
de frente,
aquecendo-me o rosto,
engrandecendo-me o dia.
Um calor matinal,
recebido directamente do rei sol.
Empoleirou-se no topo de um mastro.
A sagacidade do olhar pesquisou à volta,
semicerrou as pálpebras e afinou o olhar,
o mar ali, à distância de um bater de asas.
Alisou as penas, esticou as asas,
um leve bater, um aquecimento prévio,
dois estridentes gritos e uma queda no vazio.
A força da elevação leva-a às alturas,
pica o oceano, volta a subir,
três voltas depois retorna à posição inicial.
No seu mar, fonte de alimentação,
nada encontra para se sustentar,
vira-se para terra e lá ao longe vislumbra.
Descobre nova fonte de vida,
a lixeira humana vai passar a alimentá-la.
Um olhar semi-cerrado,
um morder de lábios encorajador,
uma tentação da carne feita mulher,
e um titubeante louco,
do prazer que ambos prometiam.
e no instante fatal,
ambos embrenhados na volúpia,
que não respeita códigos ou pareceres,
mas se delicia com prazeres que só a carne oferece.
Por trás do arbusto,
a espera faz-se até que,
incauta, a caça apareça.
Por trás da vida,
assim se processa a espera,
não pela incauta caça,
mas pela esperançosa vivência,
que se vai desfazendo,
em estranhas sensações,
nubladas pelo receio,
que esta espera representa.
A espera, que desespera e,
no entretanto,
nada mais que a espera,
que atormenta o espírito,
desta alma atormentada.
Dizes-me com a certeza dos conhecedores,
e repetes com ênfase que sim,
que estamos em pleno mês,
aquele em que o Outono se reconhece,
e eu olho-te sem te desmentir,
e do meu rosto solta-se um sorriso,
singelo, feliz, gratificante.
Desse sorriso desprendem-se alegres,
os vários trinados de pássaros distintos e,
entre eles, algumas flores,
que aromatizam e coloram de arco-íris,
esta minha primavera.
Por mais que me demonstres,
que o teu conhecimento é grande e,
que até sabes quantas são,
quando começam e terminam,
as tuas estações do ano,
garanto-te que não as sigo,
as minhas são diferentes.
Sinto que hoje,
no teu consagrado Outono,
nasceu mais uma primavera,
a minha primavera e,
nem perguntes como,
não saberia explicar-te,
a não ser afiançar-te que,
no ar que hoje respiro,
há aromas primaveris,
daqueles que trazem promessas de verão,
há chilreio de aves que acredito,
serem de um paraíso que é meu,
por isso te digo que,
a primavera é quando um homem a sentir,
é quando quiser que ela seja,
é quando a merecer por querê-la.
Esta é a minha primavera,
mesmo que seja em pleno Outono.
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