Se eu pudesse voar,
se fosse uma gaivota,
o que eu veria por estas terras.
Na certeza de que o mar,
essa fonte inesgotável de prazer,
jamais deixaria de ser a minha terra.
Voaria livre,
observaria tudo,
mas ao mar,
voltaria sempre.
Não estava preparado,
nem me encontrava receptivo.
Era um passo que,
nem nos melhores momentos imaginava.
E no entanto aconteceu.
De nada serviu fugir,
uma, duas vezes,
como diz o ditado,
à terceira foi de vez,
e foi.
Deixei-me ir ao sabor dos sabores teus,
uma, duas,
quantas vezes mais.
E tudo foi possível.
E tudo foi permitido.
Hoje olhei-te de longe,
o brilho que reflectias,
ia muito para além da mera beleza.
Ondulavas lentamente,
uns laivos mais claros aqui,
esverdeados ali,
mas um esplendor irreal,
que se espalhava pela tua superfície,
espraiando-se por estas colinas que te contêm.
És o mais belo,
és o rio que banha Lisboa.
Ao primeiro sinal,
qual mola automática,
caíste em terra e rolaste sobre o ventre.
Nesse movimento,
por uns segundos,
descortinaste uma nesga de céu azul,
muito por cima de ti,
longe do coração dos homens,
e questionaste-te,
sobre a vida e a morte,
num local tão belo.
Acordei, acho eu,
melhor fora continuar a dormir.
Fora do meu sono,
irrequieto, por vezes,
inquieto a grande parte das vezes,
nada é tão simples e confortável.
As notícias são más,
a vida pior.
a política nem se fala e,
a economia de arrasar.
Chega!
Deixem que durma e sonhe.
Sinto-me impulsionado por algo que desconheço.
Sinto-me embevecido pelo que me viola a mente.
Sinto-me explosivo pelo que me afecta a alma.
Sinto-me mal,
sinto-me bem,
porque afinal são só palavras.
Palavras que quero juntar,
dar-lhe significado,
permitir-lhes ver a luz,
colocá-las à discussão.
Palavras que me enchem e preenchem,
palavras que me violam na virulência do seu sentido.
Palavras que quero escrever.
Quando sai do prelo, ainda com o característico cheiro
do papel, das colas e das tintas que o compõem,
é uma satisfação tê-lo nas mãos, acariciá-lo.
Abre-se, aproxima-se o nariz e absorve-se,
desta inebriante sensação,
o odor do papel acabado de formatar,
correm-se umas folhas e o olhar ávido
de letras e palavras, percorrem as linhas,
humedecidos pelas águas que deles se soltam,
porque a alma as empurra, raiadas de sentimentos,
e, por vezes, pingando sobre as folhas,
amarrotando-as antecipadamente à idade.
Assisti hoje ao nascimento de um livro,
de poesia, claro, de uma poetiza, jovem,
que para apreciar poesia não conta a idade,
mas conta a sensibilidade e aqui,
nesta sala, encontrei na autora,
tudo o que a poesia procura,
sentimentos e emoções prufundos.
Não te quero hoje, não te quero só hoje,
quero-te todos os dias, horas seguidas,
quero-te a noite toda até o sol despontar,
e ainda que adormeça por ti embalado,
continuo a querer-te em sonhos,
e quando abrir os olhos, por momentos esparsos,
continuo a querer-te sem que nunca me canses.
Brilhas a meus olhos e enches-me o coração,
pelo enigma que és, pelo prazer que me dás,
e no teu brilho me revejo em sonhos sonhados,
em abraços que me aquecem as noites frias,
em momentos de êxtase e delírio,
em luz que me inunda a alma.
És a minha lua,
aquela que me ilumina nas noites mais escuras,
estás cheia, redonda e prenhe de presságios,
mas também cheia de mim, dos meus sonhos,
que se embalam em ti, lua cheia.
Invisíveis grilhetas nos prendem os pés,
que as mãos têm de estar livres,
são necessárias para trabalhar,
ainda que a paga seja tão magra,
que já nem a tigela da sopa dos pobres,
nos seja mostrada como alimento.
Invisíveis são as grilhetas que aprisionam,
a alma de quem suporta tanta desgraça,
de quem quer e não pode atender,
aos mais ínfimos desejos e necessidades.
Invisíveis são as grilhetas que,
não se distinguindo a olho nu,
atormentam o espírito de cada um.
Quando se partem as grilhetas corre o rio que há em nós,
tumultuoso, insano, cego e descontrolado,
e nessas margens em que se espraia,
arrasta consigo os escolhos que a vida foi amontoando.
Quando sinto a noite a aproximar-se,
anseio pelo silêncio que trás consigo,
mergulho nessa ausência do ruído,
que me distrai e incomoda,
deixo-me penetrar por esta noite,
que tudo acalma e tudo silencia.
Olho à volta e não vejo mais que,
um silêncio que me anima,
e na noite longa descrevo as sensações,
que a alma atravessa quando,
para além do ruído da escrita,
se inebria de nada mais sentir,
nada mais a obstruir,
nesta cruzada, que de palavras é feita,
e no silêncio se consubstancia.
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