Deixei que as horas passassem,
devagar,
era assim que queria ver o dia expirar,
o último dia do ano.
Vi o sol que o aquecia e,
no seu deambular sobre esta terra,
ia descendo dos céus, até se fazer noite,
vou senti-lo como o último dia do ano.
Porque este foi um mau ano para todos nós,
porque exigiu mais do que o humano ser,
na sua pequenez deste universo,
pode suportar sem que, em desespero,
lhe caiam as lágrimas dos olhos.
Espero pois que o ano que aí vem,
seja mais fértil, em carinho e amor,
em solidariedade e sentido humano,
espero que seja um bom ano para todos.
Não me venhas de novo despida,
aparece que te espero sempre,
mas trás vestida,
por cima dessa carne vermelha,
a pele que te consagra como humana.
Sedosa, macia, escorregadia por vezes,
mas sempre o melhor vestuário,
preparada pelo mais alto costureiro,
sem igual, sem rival,
a pele que te cobre,
que deixa à mostra o suficiente,
o que queres deixar, nada mais,
para diluíres em ti a férrea vontade dos homens.
É verdade que és bonita.
E não penses que o digo por dizer,
a verdade é que és mulher, e assim sendo és bonita,
porque toda a mulher é bonita,
seja em que idade for, seja qual for a sua beleza.
És bonita, porque és mulher.
Por o seres, tens em ti todo o erotismo do mundo,
porque o teu corpo não se compara a mais nada,
atrai, excita e ama como nenhum outro.
És bonita, és mulher,
e sempre me atrairás, porque és bonita e excitante.
De mastro erguido,
sem velas nem outras propulsões,
que não as que de meu corpo emergiam,
naveguei e manobrei um barco imaginário,
sulquei mares e ondas,
calmas e mansas,
apreciando o embalo de oceanos em repouso,
alterosas e em fúria,
quando de ti se projectava a tempestade.
Naufraguei, exausto, em teus braços,
refiz-me sobre teus seios,
e voltei a navegar teu oceano.
E se te custa muito,
não digas nada,
não faças nada,
deixa-me só,
silencioso como sempre.
Olhando o céu azul,
assistindo ao pôr do sol.
Só e silencioso,
como sempre.
Se vais por aí,
tomas o caminho contrário,
pois eu vou por aqui.
Deste modo,
jamais nos encontraremos.
Sentei-me simplesmente!
Sem nada fazer, sem nada alterar.
Simplesmente sentado.
Nesse sentar sem pretensões,
levantei a cabeça ao céu,
o que vi foi atordoante.
Naquela noite escura,
por ausência de iluminações,
porque de campo se tratava,
o céu apresentava-se esplendoroso.
milhões de pontos brilhantes,
cintilantes uns, fixos outros,
mas milhões de iluminações no escuro do céu,
que brindavam a nossa presença sob o seu manto.
Senti teus membros atravessados por um frémito,
de sensações estranhas, ou talvez não,
encolheste-te e enroscaste-te quase como um novelo.
Olhei-te nos olhos,
estavam húmidos e, de cada um, caía uma lágrima,
e nem choravas.
Sentias o frémito do prazer que se instalou em teu corpo,
corria-lo com as tuas próprias mãos,
do pescoço aos seios,
e pressionaste-os com ambas as mãos,
quase os tapando de minha vista despudorada.
Desceste ao ventre,
e entre a volúpia do prazer,
sentiste-te, sentiste-me, sentimo-nos.
Um beijo, demorado nos uniu,
dois corpos em frémitos se soltaram.
Se esta gente gostasse,
se tivessem alguma afinidade,
se olhassem o mundo com os humanos olhos,
que lhes nasceram na cara para ver,
tudo seria diferente.
De certo,
muito menores seriam as amarguras,
de quem das mãos faz meio de vida,
de quem vive do seu árduo trabalho,
das canseiras de uma vida.
Há!
Que mundo maravilhoso teríamos,
se ao menos fossem poetas.
Do meu olhar saem tempestades,
trovões, faíscas,
ventanias sem fim,
marés alteradas,
ondas assustadoras.
Mas neste olhar também crescem,
águas mansas,
suaves brisas,
um brilho intenso de carinho e amor.
Estes são os olhos que se cerram de ira,
e os mesmos que se abrem de espanto,
carinho, amor e tolerância para com o nosso mundo.
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