De entre as chamas que o fogo,
espalha pelo ar frio da noite,
vislumbram-se fervilhantes,
as vidas perdidas pelas ruas da cidade,
e em cada beco, em cada esquina,
uma alma tardia no despontar da dignidade,
desfaz-se em estilhaços de sonho,
que a Nação desperdiça.
Estão perdidos na nuvem,
que um desgaste desumano levantou,
e o vento que continua a soprar em sentido contrário,
não permite que se sintam parte da sociedade,
que apesar de tudo não os protege.
Por entre as chamas deste fogo se aquecem,
procurando o calor que lhes é negado,
mas esta é a sua cidade, este é o seu País.
Amontoam-se ou simplesmente se juntam,
nas prateleiras da vida se vão arrumando,
e por ali se vão arrastando,
sem que o seu horizonte possa albergar,
uma qualquer visão paradisíaca.
Prateleiras imaginárias,
que guardam vidas,
almas viajantes das estradas do universo,
que as aglomeram em meros momentos,
de vidas sem tempo, sem futuro,
vidas emprateleiradas em vida.
Reflecte-se na luz sobre a sombra,
que de negro pinta a rua,
e por ela se filtram os momentos.
Nas sombras projectadas,
desfasem-se os sonhos,
em luz e contra luz,
em sombra sobre a luz,
em luz apagando a sombra,
a sombra desvanecendo.
Um jogo de luz e sombra,
uma vida de sonhos,
com fugazes lampejos de luz.
Se te vejo ao longe e não te fujo,
se me aproximo e te sorrio,
se me sorris também,
é certo e seguro que,
um abraço se seguirá,
apertadinho, delicioso e sentido,
quem sabe onde nos levará?
Mal o dia se anunciava
já o chilrear se fazia ouvir,
um imenso coro primaveril
de sons diversos.
Do seu conjunto ruidoso,
a certeza de um dia cheio de sol.
E assim,
acordado com a música da natureza,
manhã cedo me dispus a enfrentar o mundo.
Estava ali parado, soprando,
de cada bochecha cheia e esvaziada,
saía um balão inflado.
Eram tantos e de tantas cores,
que as crianças faziam fila,
não para os comprar,
mas para apreciarem tão vasto colorido.
Chegavam, aproximavam-se e apreciavam,
com os olhinhos brilhantes,
do desejo pelo brinquedo colorido e,
seguiam com o sonho no olhar.
Uma ficou, não arredou pé,
viu, gostou e ali se embeveceu,
das cores que o arco íris deixou em bolas de ar,
sempre que o vento lhes batia e se movimentavam,
nas mãos da experiência feita vida,
do homem que vendia sonhos às crianças,
seguia-os com o olhar tristes de quem gostava de ter um.
Apercebendo-se daquela presença,
atenta mas nada sorridente daquele rosto de tristeza,
de quem gostava, queria, mas não podia,
de quem comovia o coração mais empedernido,
separou um balão do laço que os unia,
o mais vistoso, o mais colorido, o mais inflado,
entregou-lho na mão e, de imediato,
incendiou o mundo com o sorriso mais maravilhoso,
o sorriso da criança onde criou a esperança e o sonho,
e de caminho, melhorou todo o universo que os rodeava.
Ali no sorriso de uma criança, estava a esperança do mundo.
Venda nos olhos,
sensações à flor dos dedos.
Desmanchar.
Vinte segundos para montar.
Preparação psicológica,
preparação para a acção.
Olhos vendados.
Olhos sempre vendados.
Ele há dias para tudo,
agora também o do beijo,
será que tem de haver um dia
para isto e para aquilo?
Só termos trezentos e sessenta e cinco por ano,
já não chegam.
Que bom seria utilizarmos todos os dias do ano,
para as comemorações marcadas
só uma vez por ano.
Seríamos mais felizes,
mais humanos,
e muito mais solidários.
Todos os dias são dias,
uns melhores que outros,
uns mais agradáveis até.
Mas todos os dias são dias,
porque em cada novo dia,
uma nova alvorada de esperança,
uma nova perspectiva da vida,
um novo olhar sobre o mundo.
Venho vestida da carne que te fará renascer.
Das vestes mundanas só trago o indispensável,
aquilo que sobre teu colo cobrirá nosso delírio.
Nos inúmeros prazeres que nossos corpos anseiam,
provarás da carne minha que te deseja,
e resplandece em estertores imensos,
logo que te sente entre ela, mordiscando-a.
E sou, e és, e somos, carne com carne,
prazer dos prazeres, almas soltas neste jardim
que nos envolve e nos protege,
mas que desperta destes sentidos
que nossos corpos não dispensam.
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