Poema-me
Estava mesmo a pedir,
olhava para mim,
quase implorava,
envia-me, Poema-me.
Hesitei, durante algum tempo,
deitei-me sobre o assunto,
“matutei” e, no fim de tudo,
acabei por decidir,
enviei-o para publicação,
juntei-o a tantos outros
que tão ansiosos como o meu,
se aglutinavam em várias,
virgens e brancas páginas,
e finalmente deram-se à estampa,
foram poemizados e no meio deles
ainda ouvi murmurar,
finalmente, “Poemizaste-me”.
Excitação
Fazia sentir-se na sala uma excitação desusada,
porque iam ver nascer,
nas alvas páginas de um livro,
com tantos outros por companhia,
os poemas que criaram.
Poemas que se escondiam
em peitos repletos de palavras,
que ansiavam soltar-se libertando-se das grilhetas,
de gavetas fechadas e armários esconsos,
de onde não vislumbravam a claridade da exposição.
Assim excitados, em suas mãos
seguravam os livros,
onde, a páginas tantas e,
alfabeticamente organizados,
estava o tesouro do seu coração,
um poema editado,
nesta coletânea de poetas.
Poema aqui, Poema ali...
Como o espalhar do milho,
para alimentar as galinhas,
assim se espalha a poesia.
Poema aqui, Poema ali,
e vão crescendo,
vendo a luz do dia.
Espalha-se pelos olhares
de quem da vida faz poesia,
ou talvez queira, simplesmente,
encontrar poesia na vida.
Poema aqui, Poema ali,
vamos deixando escritos,
em páginas que já foram árvores,
que já foram brancas de letras,
alguns fiapos espaçados,
de tudo o que nos vai na alma.