De toga longa e escura vestida,
em passo quase marcial e em fila
se foram chegando ao púlpito,
de onde, doutoralmente, avaliavam.
Do cimo da montanha do conhecimento,
dos saberes de saber feitos e da vida,
essa insondável experiência do acumular
de números e letras e outras coisas,
questionavam, concordavam e escutavam,
atentamente, mesmo quando discordavam.
Nos ligeiros abanos de cabeça se percebia,
que o assunto agradava, que o teor da exposição era,
para quem do conhecimento faz vida,
puro prazer angelical, gozado até à exaustão do cérebro.
Apreciando o ambiente e a solenidade do acto,
que marca a vida e granjeia prestígio e honra,
a quem a ele se submete, e que por seu sacrifício e esforço,
ali consegue chegar, ao conhecimento e saber superior,
acima de todos os outros,
senti o prazer de sentir que lá estava o amigo de sempre,
pelo menos desde que me lembro,
talvez tenso, ou mesmo nervoso o suficiente,
mas defendendo a sua tese de Doutoramento.
E eu, grato pela amizade de tantos anos,
por assistir a tão elevado momento,
emocionado com o feliz e esperado final,
aprovado por unanimidade e com distinção,
desejo-lhe do fundo do coração,
um grande futuro porque agora é,
por extenso, DOUTOR, o meu amigo de sempre.
Sentado à volta do verde,
das plantas que me cultivam,
divirjo o olhar para um vazo,
acabaram de rebentar mais duas,
plantas exóticas, talvez,
nasceram da paixão,
que nelas depositaram minhas mãos,
uns simples caroços, sementes.
Crescem desbragadas,
viçosas, mais duas mangueiras,
e para quê? Pergunto,
se não tenho espaço para as criar?
Não sei responder,
é um impulso,
fazê-las crescer, vê-las desenvolverem-se,
são estas mãos que abarcam a vida,
são estes olhos que não se cansam de as ver desabrochar.
É cedo, já não estás habituado,
ajeitaste-te ao calor da cama,
moldaste-te aos lençóis e edredão,
agora custa-te mais.
Levantar a horas em que ainda a noite não acordou
e o dia preguiçoso leva tempo a abrir os olhos,
já não é a mesma coisa, é mais difícil,
porque o corpo, agora, quer mais cama,
procura mais calor, ainda que fora dela.
Mesmo assim, tem de ser,
o que tem de ser, tem muita força,
a força do compromisso assumido,
a necessidade dos que te esperam,
ansiosos uns, desinteressados outros,
mas o compromisso foi assumido,
o dever tem de ser cumprido.
Como tal, salta da cama,
deixa que o corpo arrefeça no encontro com o dia,
e nesta correria, sorri, sorri sempre,
porque afinal até gostas de cumprir o compromisso,
gostas do encontro que se faz prazer,
no fim, o que gostas mesmo é de ensinar.
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