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Caneta Da Poesia

Caneta Da Poesia

31
Ago15

Estou cansado de tanta gritaria (2014)


canetadapoesia

 

Não passa dia nenhum, hora alguma, um minuto que seja,
que não se ouça a gritaria, o chorrilho de insultos,
contra quem, de um dos lados da barricada,
cumpre o seu papel de não se deixar matar,
porque do outro, fazem a mesma coisa.

Mas ouvi-los daqui de tão longe, gritar e insultar,
sem outra prova de inteligência que a vozearia,
de uma contestação que nada acrescenta,
sem terem um rasgo para propor ideias novas, diferentes,
ideias que resolvam a questão, ao menos, calem-se!

Se pelo menos fossem inteligentes para perceberem que,
entre dois contendores, nunca há só um com a razão,
se ao menos percebessem que a história é inexorável,
e que as grandes nações não se formam assim,
se ao menos fossem humanos, para gritarem pela humanidade,
não por uma certa humanidade contra outra, a incerta.

Ah! Se ao menos quisessem resolver o assunto,
certamente, não espicaçariam as pessoas e as partes,
tentavam sim, juntá-las, mas não, gritam de longe,
no aconchego das suas almofadas, e insultam,
aqueles que querem atingir, mas sempre de longe.

Porque isso é o reflexo de algo mal resolvido nas suas vidas,
traumas que este conflito faz reaparecer e agudiza,
questões que não conseguem resolver por si e,
desenfreadamente, descarregam em ódio sobre aqueles,
que estando a jeito, mais se assemelham,
aos seus próprios medos e receios.

Por isso, como incapazes que são de prover soluções,
resta-lhes o mal dizer que, no desespero de tão baixo descer,
se transforma em gratuito insulto a quem não os ouve,
e sobretudo, não lhes liga nenhuma,
dada a importância da sua insignificância.

30
Ago15

Emproado (2014)


canetadapoesia

 

Passas por mim emproado,
como se nessa minúscula barriga,
coubesse todo o nosso mundo.
E eu, que há muito a encolhi,
esboço um sorriso,
para a crista que, pomposamente,
se abana diante de meus olhos.
Cogito com o meu pequeno ego,
até quando?
Até quando o galaró de feira,
cacarejará ao vento da sua ignorante imponência,
sabendo que o vento e as tempestades,
a levarão para longe?
Até quando?
Da crista levantada aos céus das novas ganâncias,
nada restará, nada será como antes,
porque o tempo e o vento,
se encarregarão de a baixar.

28
Ago15

O dia que se finda (2015-08-26)


canetadapoesia

 

O dia que é o primeiro
do que se espera sejam
ainda muitos e saborosos mais,
vai-se chegando ao crepúsculo,
que será dos Deuses mas também
com ele acompanho o início da noite.
Está calma, silenciosa e só esta casa
que tantos e sonoros sons foi
ao longo dos anos colhendo,
acumulando e amealhando em gavetas, armários
e outros locais mais para que um dia
que o futuro diria qual, talvez hoje, ou outro qualquer,
se soltassem dos esconderijos e me acompanhassem,
nos dias desta casa e nas noites como esta em que,
só o brilho desta imensa lua,
que sobre mim derrama a sua luz,
silenciosamente me faço acompanhar
de alguns restantes prazeres desta vida,
um Gin tónico, fresquíssimo e um puro,
dos mais puros entre os puros,
feito à mão nas longínquas ilhas Caribenhas
para que se note a diferença
daqueles que nas máquinas são paridos,
e a saudade que da alma me sai,
corroendo-me o coração pela ausência
das corridas a que a vida nos obriga,
para criar outras vidas que nossos passos continuarão.
No silêncio dos nossos silêncios,
tão longe e tão perto deste velho coração,
que assiste ao fim de mais um dia,
o primeiro dos que se lhe seguirão,
mas ainda espera tempo para continuar a ver
o tempo que o tempo lhe reserva,
porque este é só o fim de mais um dia.

26
Ago15

Ao meu egoísmo (2015-08-26)


canetadapoesia

 

De que me queixo afinal?
Só se for de ser homem e feliz.
Já escrevi alguns livros,
plantei árvores sem conta,
tenho dois filhos maravilhosos,
duas netas extraordinárias,
e mais um sem fim de estrelas brilhantes
que sobre mim derramam a sua luz.
Queixar-me de quê? Só se for por puro egoísmo
ou talvez aquela reminiscência que,
ao fim destes anos todos,
ainda me persegue o subconsciente,
mas isso fazia parte da geração a que pertenço,
era o destino dos homens da minha idade,
uma mácula na estrada que foi esta vida,
uma marca geracional, um ferrete.
Por isto tudo e mais o que houver,
posso dizer sim, sou um homem feliz,
tenho o que me faz sentir humano,
que me atrai emoções e sensações imensas,
conheci mundo, não todo, ainda,
aprendi com a vida e pela caminhada da estrada
onde ora fazia sol, ora se nublavam os caminhos,
e afinal o que sei, o que aprendi?
Nada, pouca coisa, sei que tenho tanto ainda para aprender,
assim tenha o tempo que o tempo me der
porque nesta correria ainda sou a criança de outrora,
e tanto que há para aprender,
e tão pouco o tempo de que dispomos para tal.
Portanto, de que me queixo? Puro egoísmo,
acho eu quando me ponho a falar aos meus botões.
Porque só tenho de meu o que posso levar comigo,
porque o espaço será curto,
porque não poderei levar bens materiais,
assim, levo o que melhor me acompanhou pela vida,
o carinho e amor por todos os que me são queridos,
as amizades que me vão acompanhando
e este enorme coração que todos alberga.
Afinal de que me queixo?

25
Ago15

Quando o dia chega (2015-08-25)


canetadapoesia

 

Porque o tempo não pára,
hoje é a véspera e o amanhã será
o primeiro dia dos tempos que se seguirão.
No silêncio desta casa vazia
dos sons que outrora a encheram,
sinto o peso dessa ausência,
só colmatada de quando em vez,
com a presença das minhas princesas.
Vejo o tempo que passou e espero
o que aí venha ainda com esperança
que se deseja para aqueles que nos seguem,
nesta caminhada sobre a terra
e anseio por um futuro em que
não tenha de pesar as tristezas
nos rostos daqueles que mais amo.
Porque hoje é a véspera e,
ao soar da última badalada da meia-noite,
entrarei no dia que ainda é o amanhã,
mas que logo se transformará no primeiro dia
de todos os outros que se lhe seguirão,
na década que aí vem e que talvez,
com sorte e algum saber,
consigamos ainda acompanhar.
Porque hoje é a véspera,
amanhã o dia marcará,
mais um ano,
a caminho do que a vida permitir.

24
Ago15

Descrição (2014-10-28)


canetadapoesia

 

Não inventes mais estórias,
esse é um assunto que,
só se entende se bem descrito,
portanto atreve-te, descreve,
mas descreve tudo,
até ao mais ínfimo pormenor.
Não omitas nada,
ainda que te pareça insignificante,
pois todos os detalhes,
que fores desfiando,
são importantes para que,
depois de tudo bem descrito,
se consiga então,
identificar o objecto
das intermináveis estórias contadas,
e dessa descrição tão intensa.

24
Ago15

O resto do fim (2014-10-04)


canetadapoesia

 

Do que resta de antanho,
aquilo que significava,
o cimento das organizações,
que se prezavam de o ser,
pela honra que acrescia
a quem delas fazia vida,
e delas retirava sustento,
além de tantos outros sustentos,
que nela faziam carreira,
de uma vida cheia de símbolos,
que a vida enchia de significados e,
para além de tudo isso,
acumulava de afectos,
conjuntos de alegrias
compostos de amores e carinhos,
que se juntavam e aglomeravam,
em torno destes significados.
Vestir a camisola da empresa,
coisas do passado, tristezas do futuro.

23
Ago15

Banco de jardim (2014-10-21)


canetadapoesia

 

Numa pausa, para almoço,
que se quer rápido e leve,
para aproveitar a sombra,
que da árvore nos cai e,
sobre o banco do jardim se derrama.
Cruzam-se sons,
conversas indistintas e,
soam tão distantes que não damos conta,
do seu teor à nossa volta.
Sons distantes,
que nos chegam difusos,
que ignoramos,
apesar de estarem mesmo ao lado,
de ouvidos que não se interessam,
pelas conversas do banco ao lado,
pelos sons do mundo que nos inundam.

22
Ago15

O que a vida cria (2015-07-29)


canetadapoesia

 

Cria e desfaz esta vida,
dentro dela nos debatemos
com a criação, a inovação e no fundo,
o prolongamento desta vida que nos cria,
que nos mima e que, mesmo no momento
em que abandonar o mundo se torna imperioso,
nos desfaz, das vaidades e doçuras com que nos cercou.
Neste vale que de lágrimas, sorrisos e alegrias é feito,
escorre a vida por leite e mel,
descarrega-se tantas vezes em nós, no seu íntimo,
a vida, tal como a conhecemos sempre,
fiel e infiel, dura, pobre e rica,
feliz ou infeliz, mas também,
com sorrisos e felicidades que afinal,
tudo se pode obter desta a que chamamos vida.

19
Ago15

Olhas-me em desafio (2015-08-05)


canetadapoesia

 

Escondes as mãos atrás das costas,
corres à volta da mesa, em fuga,
e nos teus passos pequeninos,
trôpegos e vacilantes ainda,
foges de mim, não queres que te agarre.
Sigo-te e diminuo o meu andar,
até quase estar parado,
fingindo, fingindo sempre,
que te procuro agarrar, que te quero prender,
entre estes braços que afinal,
só querem sentir-te entre eles,
chegar-te ao peito que te alberga
e sentir o calor do corpinho,
tão pequenino, onde bate um coração
que juntamente com o meu,
comporão a mais linda melodia,
o melhor dos poemas de amor,
entre uma neta e o avô.

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