Estou cansado de tanta gritaria (2014)
canetadapoesia
Não passa dia nenhum, hora alguma, um minuto que seja,
que não se ouça a gritaria, o chorrilho de insultos,
contra quem, de um dos lados da barricada,
cumpre o seu papel de não se deixar matar,
porque do outro, fazem a mesma coisa.
Mas ouvi-los daqui de tão longe, gritar e insultar,
sem outra prova de inteligência que a vozearia,
de uma contestação que nada acrescenta,
sem terem um rasgo para propor ideias novas, diferentes,
ideias que resolvam a questão, ao menos, calem-se!
Se pelo menos fossem inteligentes para perceberem que,
entre dois contendores, nunca há só um com a razão,
se ao menos percebessem que a história é inexorável,
e que as grandes nações não se formam assim,
se ao menos fossem humanos, para gritarem pela humanidade,
não por uma certa humanidade contra outra, a incerta.
Ah! Se ao menos quisessem resolver o assunto,
certamente, não espicaçariam as pessoas e as partes,
tentavam sim, juntá-las, mas não, gritam de longe,
no aconchego das suas almofadas, e insultam,
aqueles que querem atingir, mas sempre de longe.
Porque isso é o reflexo de algo mal resolvido nas suas vidas,
traumas que este conflito faz reaparecer e agudiza,
questões que não conseguem resolver por si e,
desenfreadamente, descarregam em ódio sobre aqueles,
que estando a jeito, mais se assemelham,
aos seus próprios medos e receios.
Por isso, como incapazes que são de prover soluções,
resta-lhes o mal dizer que, no desespero de tão baixo descer,
se transforma em gratuito insulto a quem não os ouve,
e sobretudo, não lhes liga nenhuma,
dada a importância da sua insignificância.