Envolvamo-nos neste espírito de ano novo,
que o velho já lá vai,
não deixou saudades nem sequer,
nos queremos lembrar dele.
Fiquemo-nos pelo novo,
que aí vem cheio de incertezas,
mas tão repleto de esperanças que,
acreditamos sinceramente,
que é novo em todos os seus aspectos,
um ano a estrear,
ainda sem defeitos,
um ano novo que podemos moldar,
à vontade dos nossos desejos.
E se numa noite quente deste verão Lisboeta,
numa qualquer praça desta bela cidade,
onde a lua não apareceu com uma única desculpa,
não queria distrair ninguém, e assim, por trás de uma nuvem,
escondida dos olhares humanos,
assistiu a um belíssimo espectáculo.
Um concerto ao ar livre e a praça repleta de gente faminta,
de cultura e música erudita,
brilhava à luz dos holofotes.
Os músicos informalmente vestidos, divinamente inspirados,
proporcionaram o sonho de uma noite de verão,
música para todos,
excelente momento com várias e diversas peças musicais,
que encheram o coração de quantos a ele assistiram,
transbordaram a alma de portugueses e estrangeiros,
que em silêncio, quase em oração,
num recolhimento extraordinário a absorveram,
estou certo que foi uma noite de felicidade.
Negros e brilhantes,
misteriosos e curiosos,
os olhos que o futuro
terá como testemunha,
os teus olhos negros.
Não nasceram nas palhinhas de um estábulo,
nem nas terras quentes da Palestina,
foi aqui, neste torrão, à beira mar plantado,
mas com o mesmo carinho e amor
que o menino teve em Belém.
Para elas a mesma veneração
de quem é pequenino e precisa de crescer,
bem, amparado e seguro,
com o calor que o coração permite.
Para elas, como foi para nós,
este será também um dia importante,
porque na sua tenra idade,
nada mais vêem que o sabor dos presentes,
que embrulhados a preceito,
brilhantes e lustrosos,
lhes fazem a delícia da noite.
As minhas meninas Jesus, que me enchem os olhos,
afagam o coração e alegram a alma.
Do universo só conheço os planetas e as estrelas.
Procurando dentre todas a que mais brilha,
amiúde me revejo, em noites muito escuras ou enluaradas,
calcorreando os caminhos da procura.
Sempre em vão esta busca.
Já que a mais brilhante,
a que me ofusca com o seu clarão,
de todas as estrelas a mais apetecida,
se encontra aqui bem perto do coração.
Um dia hei-de mostrar-lhe as estrelas do universo.
Por cima, olhando-te dos céus,
na tua sonolência madrugadora,
no descanso do guerreiro que há em ti,
e eu por cima, sobrevoando-te,
ainda o dia se espreguiçava e a noite,
em acentuada decrepitude,
ia acendendo os raios de um sol,
que ao longe se anunciava.
Olhava para baixo, extasiado,
e tu, cidade, dormias o sono dos justos,
ainda que a injustiça seja a tua constante,
mas dormes, dormes a noite dos justos,
e enganas os que em ti confiam,
mas desta altura em que me encontro,
e tu não passas de um amontoado de luzinhas,
pequenas e brilhantes, estás em paz.
Lisboa na madrugada de um adeus,
que será breve, rápido,
mas que servirá para recordar,
a saudade da sua beleza imortal.
Para a frente,
quilómetros de asfalto,
à direita e à esquerda,
campos a perder de vista,
por cima o azul brilhante deste sol de verão.
Não paro,
sigo em frente,
calcorreando o silêncio da estrada solitária.
Hei de atingir o final,
em algum momento lá chegarei.
Do alto do seu pedestal,
braços abertos à cidade,
que do outro lado do rio,
se acolhe à sua protecção.
Olha tranquilo o rebanho,
que das suas palavras fez caminho,
e que delas ainda retira,
os trilhos que a vida,
decidida ou aos solavancos,
vai criando e desbravando,
nos caminhos do presente,
e com os olhos brilhantes de futuro.
É sempre uma emoção,
estar com uma ou com outra,
mas com as duas é felicidade.
A mais nova sossegadinha que ainda mal se mexe,
a outra, mais velha,
quase não pára e anda que desanda,
mexe e remexe, pinta e repinta,
trinta por uma linha.
No conjunto das duas,
umas pérolas que me emocionam,
que me enchem de prazer de estar com elas,
com ou sem confusão.
Assim vos vejo e anseio,
que não verei talvez seja certo,
mas que o sonho, é a realidade,
desta alma que com amor,
e todo o carinho do mundo,
vos enlaça pelo coração,
cansado, sem dúvida,
mas sonhador e esperançoso.
Quero-vos no mundo,
Que só o sonho constrói,
e o meu tece-o para vós,
com fios de fina prata,
cravejada de esmeraldas,
do verde mais cristalino,
para que o futuro,
que vos sonho e anseio,
seja da mais pura transparência,
e vos encha a alma,
da mais translúcida esmeralda.
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