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Caneta Da Poesia

Caneta Da Poesia

31
Jan16

Luxúria (2012)


canetadapoesia

 

 

Soçobro em ti,

caio de bruços e,

toda a minha energia,

se concentra no teu corpo.

Perco-me de sonhos,

encontro-me nos desejos,

deixo em ti o pecado,

da gula da minha luxúria.

30
Jan16

Era bonito (2012)


canetadapoesia

 

 

Milhares de alunos acotovelavam-se, empurravam-se,

na ânsia de ser os primeiros a entrar nas salas,

querendo ocupar as carteiras de uma escola,

que bem poderia vir a ser a sua,

o exame de admissão aos liceus, após a quarta classe.

E eu entre eles, um no meio de milhares,

mesmo juntinho à porta do hall de entrada,

empurrado, amarfanhado na luxúria da entrada,

pela primeira vez experimentando aquelas carteiras,

de um ensino superior ao que iam deixar,

o sonho de se sentarem nas novas salas de aula.

E de tal forma era a exigência da pressa que,

incauto e ansioso me predispus ao perigo,

logo ali, empurrado pela chusma me senti impelido,

e sem que nada o fizesse supor acabei vítima,

e do enorme vidro da porta, que se estilhaçou ao meu contacto,

tenho a recordação desse ano de,

já não estou bem certo, 1960 ou 1961,

do liceu Salvador Correia de Sá e Benevides,

que jamais será apagada,

de uma marca no joelho, uma cicatriz,

que a vida ali deixou para que me recordasse,

da maravilha que era fazer o exame de admissão aos liceus.

30
Jan16

Gostos (2012)


canetadapoesia

 

 

Há quem não goste,

quem tenha outros gostos, outros prazeres,

diferentes formas de gostar,

todas serão boas para cada um que as escolha.

Mas eu agradeço-te meu Deus a forma que me deste,

é para mim a melhor, sem dúvida,

porque gosto do oposto,

e me derreto pelo que não é igual a mim,

aprecio o contrário e sinto-o,

abraço, beijo e desfruto com ardor,

e se daí vier amor, tanto melhor.

30
Jan16

Lágrima silenciosa (2012)


canetadapoesia

 

 

Pode dizer-se com certeza,

que das poucas vezes que me caíram,

de tristeza e não alegres,

duas delas foram sobre ti,

e se da primeira vez não tinhas ainda,

a capacidade para disso te aperceberes,

da segunda abriste os olhinhos e ficaste admirada,

porque afinal o pai também chora.

Chora e verte lágrimas, silenciosas muitas vezes,

sempre que esteja em causa a felicidade de um filho.

28
Jan16

A força do querer (2012)


canetadapoesia

 

 

Querer é poder,

dizem-me alguns!

E eu quero e não posso,

e também não quero,

mesmo assim ainda posso.

E essa força do querer,

pode simplesmente ser quebrada,

quando deixamos de querer,

e a verdade é que já não quero.

27
Jan16

Qual o preço (2012)


canetadapoesia

 

 

Quanto custa a vida de um homem?

Quanto custa a vida de uma mulher?

E de uma criança, quanto vale?

Uma família, quanto vale para o país?

Até me custa expressar um número,

mas posso fazê-lo a qualquer dos valores,

ou em escudos ou em euros.

E isto martela-me a cabeça,

humilha-me e envergonha-me,

faz já muitos anos,

pelo meu país,

por mim e pelos portugueses,

que apesar de tudo acharam normal.

27
Jan16

Arrastam-se (2012)


canetadapoesia

 

 

Como lagartos!

Pintados, com a cor do chão em que se arrastam,

com as caras escurecidas com a graxa das botas,

que nos dias de parada lhes brilham nos pés.

Arrastam-se como lagartos.

Sobre os cotovelos,

impulsionados pelos joelhos,

mãos manietadas pelo segurar da mortífera pena,

que lhes pesa no corpo, que lhes pesa na alma,

e arrastam-se invisíveis e silenciosos,

em direcção ao objectivo detectado.

25
Jan16

Fim de festa (2012)


canetadapoesia

 

 

Rufavam os tambores, soavam gaitas de foles,

na missa do meio dia,

era a festa da aldeia, e pela noitinha acendiam-se as luzes,

os carrosséis rodavam, tirinhos nas barracas,

oferecendo presentes diversos aos mais afortunados.

Mais tarde a festa dura,

um conjunto itinerante, um palco que de improvisado pouco tinha,

artistas ensaiados e mais ou menos sincronizados,

que isso pouco importava,

e a festa rebentava de sons, modernos, dançantes e roqueiros,

era a apoteose que se prolongaria mais umas horas.

E o fim que se anunciava pelo abandono da esplanada festiva,

pelo lento apagar das luzes da ribalta, despoletava,

a tristeza e a angústia dos que da festa fazem modo de vida,

e com ela ganhavam o sustento do dia a dia.

Rostos cansados, extenuados pela falta de descanso reparador,

a incerteza escrita nos olhos e gestos lentos do desfazer da festa,

não sabendo o que os espera na próxima aldeia,

haverá ou não festa?

Recolhem às roulottes já a madrugada anunciava o novo dia,

Uma breves horas para o corpo recuperar.

Depois?

A incerteza!

A certeza de mais sacrifícios e desilusões,

O fim de festa.

25
Jan16

Iniciativa (2012)


canetadapoesia

 

 

Sempre foi tua a iniciativa,

que eu tímido e amedrontado,

nunca fui capaz de a ter.

E assim foi que,

também a tomaste quando

quase sem me aperceber,

também me tomaste para ti.

23
Jan16

Sessenta e cinco anos (2015-08-26)


canetadapoesia

 

 

Mais um passo,

e atingi outro patamar,

chego aos sessenta e cinco,

que vêm sendo somados desde 1950.

Não, não estou triste,

com a inexorável passagem do tempo,

sobre este corpo que se vai amolecendo,

nem sequer saudoso,

de tempos em que a irresponsabilidade campeava,

suportada por outras responsabilidades.

Estou satisfeito, ou quase, contente de o ter atingido,

Agradecido pelo que passei e por tudo o que superei.

Não sou rico, nem proprietário,

sou antes e sobretudo feliz e apaixonado.

pela vida, pelos meus, pelos vossos, pelo mundo.

Sou feliz e fiz sessenta e cinco anos.

A que nem os quatro anos de brutalidade forçada e obrigatória,

conseguiram tirar o prazer de o ser.

Feliz e agradecido.

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