Do ínfimo da minha figura olho para o alto.
Empoleirado no seu imponente cavalo,
de arreios de couro e de ferro coberto,
o mitológico cavaleiro dispara o olhar,
atinge o horizonte que no seu tempo,
atravessava oceanos.
Nos seus olhos brilhavam pepitas,
de ouro e diamantes do tamanho de um continente.
Na sua ambição correram rios do sangue de inocentes,
povos que da sua violência retiraram a escravidão.
E o herói que hoje estaria num qualquer tribunal internacional,
enviou a glória da conquista,
o ouro do saque e a escravidão da resistência vencida.
O império Asteca de Montezuma, desapareceu,
na sofreguidão da conquista,
no engrandecimento das origens, dizimando destinos.
Porque era verde e ressaltava,
era excitante ver que um simples tecido
cobria e manietava um corpo
que ansiava pela liberdade,
que um botão teimava em aprisionar.
Aparecias como bálsamo,
anunciavas as novas e até algumas velhas notícias,
mas com o teu ar matreiro
de quem sabe que está a ser observada,
apreciada e até elogiada,
servias-nos a horas certas o saber do mundo,
e o prazer do olhar.
Uma mulher de verde vestida,
coberta pela nuvem que nos chega pelos canais do etéreo
e nos agarra o olhar no constante do balbuciar
de notícias que já não nos interessam,
porque o importante,
é a imagem do verde que cobre a mulher.
Como me sinto? Mal, muito mal.
Ando por aí, percorro a cidade, atravesso as ruas semi-desertas,
de gentes, de lojas e pontos de referência,
um vazio de alma, um vazio na alma Lusitana.
Já nem tabaco, para os velhos amigos, acompanhantes
de anos de vivência, por esse mundo fora, tabaco para cachimbo!!!!
Que saudades dos tempos em que desejar era ter,
desde que se pudesse pagar, mas pelo menos ali estava,
se não enchia a fornalha do cachimbo, enchia a da alma,
que se comprazia com a fartura à sua volta,
ainda que mal lhe chegasse, mas havia o prazer do olhar,
enchia o olho e a seguir a alma.
Agora é o deserto que se apossou da cidade,
e nesta cidade linda, não há, já não há, faz tempo que não há!!!!
Bolas!!! ( queria dizer outra coisa)
Ainda somos Portugal! Ainda somos Lisboa!
Esse entreposto do mundo. E não há?
Então estamos pior do que em Cuba, só que em Cuba,
ainda há tabaco e felicidade a rodos.
O resto? O resto são flores.
Pois é minhas meninas!
Apanhadas em flagrante,
a deitar a mão às sombrinhas de chocolate.
Mal entram em casa desalvoram
em direcção ao armário dos prazeres
e depois inclinam a cabeça com ar angélico,
olham-me nos olhos e fazem um sorriso envergonhado,
mostram-me as mãozinhas onde agora moram as sombrinhas
e dançam à minha frente de contentamento.
Sou inflexível e digo não,
só depois do jantar e quando os papás derem autorização,
dói-me o coração, mas não posso ceder.
Lá obedecem a contragosto,
acalmam-se um pouco e o jantar
é devorado à velocidade da luz e sempre,
mas sempre, com o olhar preso ao armário dos prazeres,
das sombrinhas de chocolate,
que o que é doce, nunca amargou.
Assim que levantei os olhos,
para esse corpo cheio e arredondado,
num primeiro momento,
espantei-me com a sua beleza.
Depois, mais consciente,
entusiasmei-me com ele,
e já sentia o seu calor
se as mãos trémulas e ansiosas
o pudessem acariciar.
Sentia-me o ser mais afortunado,
porque estavas ali,
ao alcance da minha vista
e quase, quase ao alcance das minhas mãos
o que faria de mim um felizardo,
por puder sentir entre elas
um corpo tão excepcional como o teu,
redondo e cheio, pleno de malícia,
minha lua encantada.
Faz sentido a vida?
Em minhas lucubrações,
creio firmemente que sim.
Ainda que ao atravessarmos,
o portal que nos traz à luz,
encontremos pelo caminho
escolhos diversos, desilusões sem fim e,
por vezes, intransponíveis muros,
vale a pena, faz sentido.
Por ela se cresce no conhecimento,
com ela vivemos momentos agradáveis,
prazeres inauditos,
pelo caminhar na sua estrada,
quantas emoções apreciadas.
Basta-nos elevar o olhar
para mais além que o umbigo.
Ver uma criança nascer, crescer e multiplicar-se,
é a vida em todo o seu esplendor.
Faz sentido a vida quando,
olhando para outros,
nos vemos reflectidos.
Faz sentido, vale a pena.
O que a maré ao retirar-se cansada por ali deixou,
numa praia enorme e um areal imenso,
não foi só a lagoa que agora ressaltava à nossa vista,
uma grande possa de água salgada,
que o sol inclemente aquecia mais facilmente,
e que um pequeno rego ligava ainda ao mar.
O que ali ficou foi vida.
À sua volta, dentro dela, aos saltos e nela deitados,
as crianças chilreavam a cada pulo dentro dela,
chapinhavam, brincavam com os minúsculos peixinhos,
e os seus risos estendiam-se a toda a praia,
enchiam-nos os ouvidos no sussurro da distância,
e sentíamos que ali, naquela possa,
recriava-se e continuava a vida,
pela água, pelas crianças.
Desciam a rua em algazarra,
saídos de todos os portões,
enxameavam a alameda espaçosa,
as universidades de Lisboa.
Alegres e satisfeitos porque,
ainda a vida lhes sorria,
mesmo com o difícil presente,
nada fazia prever que um futuro,
incerto, tenebroso e imperscrutável,
lhes toldasse a juventude.
As nuvens vinham-se aglomerando,
em inexpugnáveis castelos escuros,
pairavam sombrias no terror que infligiam,
no futuro de cada um deles.
Dizes tu com um ar de quem dúvida,
estás a brincar, avô,
não estou não, é mesmo a sério,
ah! Então estás a brincar a sério, avô.
Sobre o ainda azul do céu,
cheia e luminosamente branca,
em perfeita concorrência com o sol cansado,
projectado nos cumes montanhosos,
atrás dos quais se irá deitar.
Absorves os males do mundo,
e nessa incumbência te vais inchando,
transformando em promessas,
que as formigas humanas,
almejam alcançar nas tuas graças.
És a lua cheia de um Agosto quente, inferno de chamas,
e que contigo se aquieta.
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