Escureceu a noite, como breu,
a luminosidade das estrelas desapareceu
e no céu, uma massa cinzenta baça e opaca
toma o lugar do que era a visão estonteante
da formosa via láctea,
caminho que nos leva a Santiago.
Lentamente, consistentemente,
se desenvolve uma miríade de gotículas,
quase invisíveis, praticamente intocáveis.
Cai um orvalho persistente que noutras terras,
bem longe daqui, chamaríamos “cacimbo”, já sem saudades,
enche a pele de da humidade que,
com o calor do dia ainda presente,
cria um torpor de frescura que agrada ao corpo.
Cobre a terra e sacia as plantas,
enriquece-as da essência da vida e a nós,
humanos que somos,
engrandece-nos pelo amor à natureza.
Se por um sortilégio daquelas manobras,
mais ou menos ao acaso,
com que somos brindados pelo destino
de repente acontecer e,
nas longínquas antípodas em que te encontras
escutares um grito,
não estranhes nem te assustes.
Posso estar só a sonhar quando emito sons ininteligentes,
longínquos no seu soar,
sonoros e lancinantes,
porque o sonho nos faz gritar
e a plenos pulmões o emitimos.
É só mais um grito,
talvez mesmo só mais um choro que soa,
um grito de desespero,
ou talvez só um som da solidão que,
no silêncio que me rodeia se torna lancinante e audível
para lá da distância da separação.
Invulgar nos dias que correm,
passas de saia vestida, preta e cingida ao corpo,
colada às curvas que Deus te deu,
elegante como qualquer mulher,
que de saia vestida, empolga a vista de apreciador,
distraído, mas atento, a uma cintura vincada,
pelo porte de mulher, que sabe que o é,
que sabe sê-lo e não receia mostrá-lo.
De saia é diferente.
Senti-te o corpo rígido,
senti-te os movimentos presos,
senti-te a capacidade de expressão diminuída,
senti-te a memória desvanecida
e no abraço do encontro
senti-te.
Senti-te emocionado,
senti-te os olhos húmidos,
senti-te no esforço que fazias,
senti-te no desespero de não conseguires,
senti-te.
Senti-te em mim,
senti-te na comunhão de vontades,
senti-te naquilo que nos une,
senti-te no abraço dado,
senti-te no aperto de mãos,
senti-te.
Deixei-te no abraço que sempre nos unirá,
com os olhos molhados dos sentimentos
e emoções que por mim passaram.
Deixei-te com um abraço de imensa saudade
e em teus ombros inertes,
ficou uma lágrima solitária,
na esperança do regresso,
que seja tão breve quanto possível,
que seja tão forte como sempre,
que seja um regresso para nós
que ansiosamente te queremos de volta.
Porque me impões regras,
para que cumpra o que pretendes,
se eu não te imponho nenhumas?
Se me tiras a liberdade de ser eu,
que mais posso ser senão o guardião,
das liberdades que a ti reconheço.
Porque o sonho pode estar numa bola,
redonda como todas as bolas,
mas luminosa, brilhante, esplendorosa.
Hoje estavas assim,
no alto, mas tão perto
que quase se podia dizer que,
estavas a uma mão de recolha
e tanto que te queria tocar,
acariciar toda a tua nudez,
sentir os teus contornos na minha mão,
e sonhar como só tu me fazes sentir.
Abri-te a janela e deixei que
entrasses e me enchesses a cama,
me envolvesses e me enchesses de sonhos,
não te fizeste rogada,
penetraste-me no quarto e iluminaste-me,
acariciaste-me e acolheste-me no teu bojo.
E eu sonhei, contigo e com o mundo.
Nas noites enluaradas,
quando as estrelas a visitavam,
punha-se a mirá-las.
Apreciava os seus contornos,
a luz que emitiam,
o brilho que davam ao céu.
Punha-se a sonhar,
imaginava vezes sem conta,
que aventuras teria,
se as conseguisse alcançar,
ainda que por breves momentos.
Tê-las à mão,
acariciá-las,
aconchegar-se-lhes,
na medida dos seus sonhos.
Vejam como luz!
Tem brilho próprio e nem sequer é ouro.
Há mais coisas que brilham para além do metal.
O carácter, os princípios, a ética e a educação.
Têm brilho próprio também,
e se não luzem como o ouro,
iluminam a alma de quem os aprecia,
encadeando os que com eles contactam.
Chamo o vento e peço-lhe,
que sopre de mansinho,
e te encontre entre a multidão deste mundo.
Que te solte os cabelos,
e te envolva no bafo quente do verão,
que lentamente te empurre,
para aqui,
onde me encontro e te espero,
para com os meus braços te envolver.
Por entre as nuvens,
cinzentas e fechadas à cidade,
escorre o sol.
Em raios rectilíneos,
abrindo em leque,
sobre a imensidade de leituras
que expostas e à escolha,
deliciam os seus amantes.
Surgem brilhantes debaixo dele,
resplandecem nas diversas e,
multicolores capas e títulos milhentos.
Entre as folhas abertas pela curiosidade,
surgem leituras fugazes,
sorrisos alguns e esgares disfarçados.
Entre tudo e todos, o prazer de estar ali,
sentar e assistir a uma apresentação
de um livro de referência, já se vê,
sentir o calor do rei dos astros
e sorrir no desfolhar de um livro.
O prazer das pequenas grandes coisas da vida,
Deambular entre livros e debicar aqui ou além,
uma passagem, uma frase, uma estória,
no fundo, uma vida em papel.
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