Éramos pequenos e brincávamos todos,
de todas aquelas cores se formava o nosso arco-íris,
brancos, pretos e mestiços, éramos nós e brincávamos.
Tu eras a fonte da nossa inspiração,
chamávamos-te mulato e tu afinavas com isso,
e eram tantas as vezes que um dia,
quando menos esperámos saíste da casca e respondeste,
que não, mulato não eras, nem branco, nem preto,
eras da cor do amor e calaste-nos de vez.
Disseste então, doutamente para a tua idade,
certamente industriado pela tua mãe,
que eras de uma cor rara, a cor do amor,
e ficámos em silêncio para ouvir o que dizias,
continuaste afirmando que a tua cor era a do amor.
E era de facto, a cor do amor entre dois seres humanos,
que apesar da diferença de cor eram ambos e simplesmente,
seres humanos com “H” grande,
tão grande que geraram uma nova cor no universo.
Eras filho de um casamento não muito vulgar,
um casamento de amor e por amor,
daqueles em que as cores não interessam nem importam,
porque o amor não tem cor e prova eras tu,
com uma mãe branca como a neve
e um pai que estava longe da brancura dela,
mas no fim deram à luz deste universo um menino,
da cor do amor e isso era invejável e indesmentível.
Foi nesse dia que passámos a chamar-te amor,
ficaste mais irritado,
mas como em todas as estórias de crianças,
tudo acabou em mais uma brincadeira do arco-íris que nós éramos,
só nos perdemos no tempo porque a vida a isso nos obrigou,
mas como vês, apesar da distância que nos separou,
ainda hoje és da cor do amor e,
na saudade da separação,
serás sempre da cor dos corações sem cor.