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Caneta Da Poesia

Caneta Da Poesia

30
Nov16

De chorar por mais (2013)


canetadapoesia

 

 

Cortei-o em pedaços pequenos,

queria fazê-lo render ao máximo,

meti o primeiro na boca,

duro, escuro, mesmo negro,

volteei-o entre a língua e os dentes,

começou a demonstrar-se pastoso,

espalhou-se pelo palato,

um amargo doce de fazer vir as lágrimas aos olhos,

e sem lhe dar nenhuma dentadinha,

foi-se derretendo, diluindo entre sorrisos de prazer.

Engorda dirão alguns, pecado dirão outros,

supremo prazer dirá a maioria e,

corroborando desta opinião,

acrescento, o céu na terra,

puro prazer dos sentidos o sentir do chocolate.

29
Nov16

Voragem (2016-11-16)


canetadapoesia

 

 

Correm desalmados,

incansáveis,

um atrás do outro,

numa velocidade estonteante.

Mesmo quando se tenta alcançá-los,

desaparecem da vista e somem-se

no somatório dos anos que nos ultrapassam,

correm com uma voragem infinita

nesta nossa vida que os alimenta.

Deixam-nos atónitos e sós

num mundo que por si,

se vai também consumindo

na voragem dos dias que vivemos.

28
Nov16

Quente e frio (2013)


canetadapoesia

 

 

Então o sol que despertara mais tarde,

apercebe-se desta anomalia estratégica,

que lhe retira a primazia do reinado,

sobre a terra que quer quente e que,

sempre manteve envolvida pelos seus acalorados raios.

E atira com força,

uns quentes e rápidos laivos do seu poder,

aquecendo o que era frio,

derretendo o que em água se tornará,

ao mesmo tempo que fecunda a terra sedenta,

da vida que aí virá, na primavera, entenda-se,

que já não vem longe e se aguarda com ansiedade.

26
Nov16

Escrevo poesia (2013)


canetadapoesia

 

 

Pois eu cá, escrevo poesia também,

porque gosto, porque me liberta,

admito até que haja quem não goste ou não aprecie,

mas escrevo-a sem me preocupar se alguém a lê,

vem de dentro de mim, com força,

como o vento que me açoita em dias de tempestade,

e sai-me muitas vezes sem que a procure,

sai com prazer umas vezes, outras sensual e até enraivecida.

Posso garantir que sai sempre do mais profundo de minha alma,

E que nela encontro alguma satisfação,

pelo rugir da mágoa que me vai inundando o coração,

e por ela me liberto de constrangimentos,

da raiva inconfessada pela impotência da revolta,

do amor que procuro distribuir pelos meus semelhantes,

e porque não dizê-lo também,

pelo entoar do hino às mulheres,

que são as musas e a continuação desta espécie,

que de humanos cada vez tem menos.

24
Nov16

Até onde a vista alcança (2013)


canetadapoesia

 

 

No céu recortava-se a borrasca,

em forma de pesadas nuvens negras,

mais próximo, junto a terra,

debruavam-se o cimo dos montes,

encabeçados do nevoeiro opaco,

aqui e ali coroados de branco.

Na terra que calcávamos,

molhada pela chuva constante,

alagada pelos imensos lençóis de água,

distinguíamos ao longe,

bem para lá do que a vista alcança,

muito além do esticar de um braço,

a monumental catedral de Tuy,

encimando as casinhas circundantes,

minúsculas quando daqui as olhamos,

e para lá chegar em corpo,

o rio Minho e a secular ponte,

de ferro forjada e cinzento pintada,

e por cima, até passa ainda, o comboio.

24
Nov16

Cacilheiro (2013)


canetadapoesia

 

 

Imponente, o velho cacilheiro,

aproximava-se de um cais há muito conhecido.

Arribou ao molhe tomando posição,

amarras lançadas ao cais,

acostado e seguro abre os portalós.

A gente desembarca em correria louca,

para chegar nem sei onde,

e o cacilheiro aguarda agora,

nova vaga de gentes que entram,

que se acomodam às vistas que ele proporciona,

que partem na dormência que só o rio oferece,

na forma de um velho cacilheiro.

Fecham os olhos e dormitam por um pouco,

ou sonham com outras águas,

mares distantes, sem cacilheiros,

navios de cruzeiro, talvez,

adormecidos pelo leve balançar,

que o manso ondular do rio oferece.

23
Nov16

Tudo que há a fazer (2016-11-19)


canetadapoesia

 

 

Quando o olhar se me perde

neste imenso horizonte e

se turva na lonjura,

é a vida em todo o seu esplendor,

com a visão clara de um mundo

sonhado e não realizado,

um mundo que me vai toldando o olhar

ao longo da estrada que percorro.

E é tão longe, tão distante,

aproxima-se tão depressa

que a velocidade nos causa vertigens.

Vai-se toldando o olhar,

vemos já desfocado o mundo e,

um dia qualquer,

deixamos de o ver e acaba-se a viagem.

22
Nov16

Não vou por aí (2013)


canetadapoesia

 

 

Não, não vou por esses caminhos,

sou do contra e sempre serei,

contra ditaduras e outras formas de pressão,

contra xenofobias e outros modos de aniquilamento,

se fiz a guerra?

Sim fiz, mas a minha e não a que queriam que fizesse,

do cano da minha espingarda,

não saiu a chama que apagasse o sopro da vida,

essa é sagrada mesmo quando de mim discordam,

mas sou do contra,

não assino por baixo de qualquer lista em que não acredite,

não sigo o rebanho por muitos carneiros que tenha,

mesmo que venham limpinhos e engravatados,

sou do contra.

22
Nov16

Chamávamos-te mulato (2016-11-21)


canetadapoesia

 

 

Éramos pequenos e brincávamos todos,

de todas aquelas cores se formava o nosso arco-íris,

brancos, pretos e mestiços, éramos nós e brincávamos.

Tu eras a fonte da nossa inspiração,

chamávamos-te mulato e tu afinavas com isso,

e eram tantas as vezes que um dia,

quando menos esperámos saíste da casca e respondeste,

que não, mulato não eras, nem branco, nem preto,

eras da cor do amor e calaste-nos de vez.

Disseste então, doutamente para a tua idade,

certamente industriado pela tua mãe,

que eras de uma cor rara, a cor do amor,

e ficámos em silêncio para ouvir o que dizias,

continuaste afirmando que a tua cor era a do amor.

E era de facto, a cor do amor entre dois seres humanos,

que apesar da diferença de cor eram ambos e simplesmente,

seres humanos com “H” grande,

tão grande que geraram uma nova cor no universo.

Eras filho de um casamento não muito vulgar,

um casamento de amor e por amor,

daqueles em que as cores não interessam nem importam,

porque o amor não tem cor e prova eras tu,

com uma mãe branca como a neve

e um pai que estava longe da brancura dela,

mas no fim deram à luz deste universo um menino,

da cor do amor e isso era invejável e indesmentível.

Foi nesse dia que passámos a chamar-te amor,

ficaste mais irritado,

mas como em todas as estórias de crianças,

tudo acabou em mais uma brincadeira do arco-íris que nós éramos,

só nos perdemos no tempo porque a vida a isso nos obrigou,

mas como vês, apesar da distância que nos separou,

ainda hoje és da cor do amor e,

na saudade da separação,

serás sempre da cor dos corações sem cor.

21
Nov16

Pelo olhar (2013)


canetadapoesia

 

 

Não sei se estou aqui olhando o que não quero,

sei que procuro um olhar,

e se nessa procura o encontrar,

sei que não foi em vão o meu,

porque nesse momento em que as pálpebras,

ofuscadas se fecharem e abrirem,

foi encontrado o propósito da vida,

e nesse momento o amor fala mais alto.

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