Não era como as outras,
modernas arejadas e largas,
cheias de luz e candeeiros altos,
não, esta rua era uma rua com cheiro a rua.
Claro que o trânsito fluía nos dois sentidos,
mas o piso era empedrado com cubos de granito,
e ao longo dela corriam carris,
do que tinha sido uma inovação, os carros eléctricos,
existiram muito antes da febre dos automóveis que os imitariam,
e nesses carris ainda circulavam os velhinhos eléctricos,
a par de outros de construção recente, mais equipados,
com vidros fumados e ar condicionado.
Ambos circulavam nos mesmos carris sem se incomodarem com o feito,
lamentando que a cegueira do homem tivesse relegado,
para um plano de desperdício tantos dos seus irmãos,
aquilo que era uma mais valia de tempos remoto,
Jazia agora na sucata e clamava-se mobilidade eléctrica.
Mas a rua tinha mais, prédios vetustos, recuperados e bem tratados,
e na mercearia que ainda lá estava, o sr. Manuel,
amiúde conversava com o sr. Joaquim, o do talho,
e até na drogaria se discutiam os assuntos que aconteciam na padaria,
mas ao fim do dia acontecia o melhor,
reuniam-se à volta de uma mesa no café da rua,
antes de se recolherem ao descanso de suas casas,
para pôr em ordem os assuntos do dia.
Não, aquela não era uma rua como as outras,
era uma rua especial e que vinha de longe,
sobretudo era uma rua com cheiro a rua,
e as pessoas que nela viviam e sentiam o seu cheiro,
sabiam que eram pessoas consideradas,
seres humanos com defeitos e virtudes,
mas não eram números com certeza.