Quando me ponho a olhar para o mapa do mundo
e logo me detenho no mapa da Europa,
espantado reconheço que este País que amo de forma crescente
é diminuto, muito pequeno geograficamente.
Mas quando percorro as ruas e descontraidamente
viajo nos transportes desta cidade de Lisboa,
sinto na espinha o arrepiar que só um grande prazer permite sentir.
Vejo a diversidade de cores e culturas
de gentes que de outras paragens nos demandam,
gente em quantidade e de todas as qualidades,
gente que chega e se mistura nesta textura que forma um País.
Ouvindo-me pela alma e de coração aberto,
reconheço que este País é pequenino,
mas aqui neste cantinho,
cabe muito mais gente que nos grandes Países do mundo!
Que satisfação, que prazer,
olhar o mundo de um canto minúsculo e dizer bem alto,
somos portugueses e continuamos a dar mundo ao mundo!
Da desilusão e do espanto,
assim eram os rostos que nos entravam em casa.
Espantados com o que lhes estava a acontecer,
desiludidos pela luta de uma vida perdida em escassos segundos.
Nada se podia fazer mais,
E se a natureza estava zangada!
Nos seus rostos liamos o espanto neles sentíamos a desilusão,
deles decorria o terror que só a natureza à solta produz
através de um dos seus braços armados, o fogo!
Esse flagelo quase corriqueiro que nos leva a distinguir
entre vagas de brutais chamas,
os rostos alterados do ser humano que se admira que ela reaja
a tantos maltratos que eles lhe influem.
Mas a natureza é sábia e se agora destrói,
para purificar, para limpar e clarificar posições,
logo de seguida, no próximo ciclo da vida,
fará renascer de novo com a mesma força com que destrói,
a vida, em todo o seu esplendor!
É um ser estranho este bombeiro,
actua de modo a que a sua vida nada valha,
mas sempre preocupado com as vidas de outros seres.
daqueles que nem conhecem,
mas que precisam de ajuda.
O bombeiro é assim uma espécie de anjo da guarda,
daqueles que nem damos por eles,
mas estão lá quando precisamos para o que quer que seja.
O que leva alguém a ser bombeiro,
onde não ganha fortunas nem enriquece com o seu esforço
mas se satisfaz com o sorriso de uma criança salva.
Não deve ser por acaso que são chamados de voluntários,
são-no pela sua entrega, pela sua vontade de ajudar,
são-no por serem seres especiais,
os que se importam com os outros.
E quantas vezes a sua actuação passa despercebida,
não têm uma palavra de apreço de agradecimento,
nada, nem uma palmadinha nas costas,
mas estão lá na vez seguinte de novo,
a arriscar a vida para outras salvar.
Sujos, cansados, destroçados por falta de descanso tantas vezes,
mas sempre presentes e nós nem agradecemos esta dádiva de vida.
Por isso aqui fica o meu abraço e sincero agradecimento,
por tudo o que nos dão, por tudo de que nos protegem.
Obrigado do fundo do coração!
Altas e assustadoras vogavam ao sabor de um vento
que não se acalmava e ainda as atiçava,
eram chamas altas, enormes mesmo,
ultrapassando a copa das já de si altas árvores.
No arremesso contra as coisas e no ataque aos humanos seres,
que se atreveram e se permitiram viver no verde, entre árvores,
desfrutando de um oxigénio que agora,
brutalmente,
se consomia em golfadas de labaredas incandescentes
que cresceram e se avermelhara na sua incontida raiva
contra a invasão de um domínio que só a elas pertencia.
E crepitavam assustadoramente em contínuo e repetido aviso,
para que se afastassem da sua influência,
reagindo a fogo forte e monstruoso
reduzindo tudo o que encontrava à sua passagem
a cinzas de destruição e ao pó da eternidade
a que o mundo na sua suprema sabedoria reduz a vida!
“Do pó viestes, ao pó tornarás”.
Que é vasta eu sei o de assim o ser,
logo a vista se perde em lonjuras que o coração quer alcançar.
De longe se reconhece a falta que faz o perto estar,
porque nesta lonjura se desgastam
os abraços que não se dão
e o calor que se perde quando dois corpos apartados
se não encontram num abraço apertado!
Sofreguidão de afectos que se desejam,
incontrolável alquímia de sensações extremas
quando incontroláveis desejos não concretizados
se acumulam na vastidão do longe sem limites.
Ah! Se o agora fosse tão perto que sentisse as ondulações
desse corpo que carregas e tresanda ao meu desejo de o sentir,
que calor não aplacaria este frio que nos consome!
Protegido da soleira do dia,
mantinha-se atento a tudo o que o rodeava.
Os seus olhos varriam o terreiro até onde podiam alcançar
e sorria ao desabrochar do milho e da mandioca,
mesmo as parcas galinhas que entre elas deambulava
proporcionavam prazer naquela alma envelhecida.
O cachimbo, construído por si,
de um pedaço de tronco na mata recolhido,
apagava-se com a constância dos desistentes da vida,
ele insistia, voltava a chegar-lhe lume
e sugava até esfumaçar de novo.
Retirava-o da boca com a lentidão a que o saboreá-lo o obrigava
e dissipava o olhar entre os fumos
na verdura que a mata não muito distante os absorvia.
Sorria, sorria sempre!
Sentado à sombra do beiral da cubata que ele próprio erguera,
Não dispensava a recorrente contagem da filharada e mulheres que,
Sendo o seu encargo e também o seu rendimento,
A força de trabalho que garantia o bom tratamento da lavra,
Eram também o seu sangue, o seu suor e,
quantas vezes as suas lágrimas.
Eram a sua vida e tinha de cuidar deles.
No imenso silêncio do chilrear dos pássaros,
rodeado de arbustos e flores,
debaixo das árvores que do sol a protegiam,
sentada num banco de madeira feita,
ali estava a solidão personificada.
Na mão apertava nervosamente
O único objecto que ainda a ligava ao seu mundo silencioso,
O telemóvel deixava-se apertar contra o peito,
à espera de uma chamada, qualquer sinal que a animasse,
apesar de tudo, não tocava!
Os cabelos todos brancos ondulavam à brisa,
o coração palpitava na esperança
que um toque milagroso lhe soasse aos ouvidos
e com isso mitigasse a sua solidão.
Nada, nem toques, nem visitas,
a única companhia do resto de uma vida
estava ali num banco de jardim,
na companhia do trinado dos pássaros.
Só lhe restava a solidão que a vida lhe oferecia e que,
os que nela sempre a acompanharam agora lhe ofereciam,
pela existência de um simples telemóvel!
Uma vida de solidão acompanhada e no fim ao abandono votada,
no encaminhar para o epílogo de uma solidão de vida!
Ainda que destoe da multidão
e me veja sozinho entre ela,
ainda assim continuarei
sem me voltar ou sequer
olhar para trás de mim.
Porque o passado lá ficará
o que mais me atrai
é o olhar em frente,
depositá-lo num futuro
que não vislumbro, mas posso imaginar.
Para lá caminharei com meus hesitantes passos
e se lá chegar gritarei a plenos pulmões,
cheguei! Estou no futuro!
Estou certo que lá, como no passado,
outras multidões se formarão.
A zona era nobre e logo ali se engrandecia o coração,
era um enorme relvado que circundava o seu monumento,
e logo ao lado a Torre de Belém.
O mesmo símbolo Nacional que tantos jovens viu partir
E pelo mesmo caminho nem todos viu regressar.
Foram-se chegando com alguns dos emblemas que honraram
em tempo que o tempo ainda não apagou,
que lhes ornava as já calvas e brancas cabeças.
Mesmo assim, orgulhosamente exibidos
pelas dificuldades que enfrentaram na defesa da sua Pátria.
Traziam consigo as saudades dos tempos que lhes foram madrastos
e a lembrança dos camaradas que ali não poderiam estar hoje,
traziam as famílias e sobretudo as mulheres que os ampararam
em tempos de separação e hoje os amparam em momentos difíceis.
Porque a memória os atraiçoa e mesmo em paz se sentem
em permanente guerra consigo mesmo e com os seus pesadelos.
Traziam consigo os sonhos dos meninos que se fizeram homens
à força das armas que lhes depositavam nas mãos,
traziam consigo o futuro que lhes foi negado pela defesa da Nação
e o peito cheio da honra que uma sacrificada geração honrou.
Traziam consigo o respeito que merecem
pelo que deram à Nação que tanto os tem esquecidos.
Saiba a Pátria respeitá-los e honrá-los e as novas gerações
compreender o que ganharam com o seu sacrifício.
Até para o ano camaradas!
Espalhadas pelo imenso negrume do céu
As estrelas espaçavam-se em brilhantes distâncias
Qual delas a mais luminosa
Deslumbrado, olhava o seu piscar.
Vão-se juntando, alinham-se
Formam uma passagem única,
Um caminho estrelado,
Uma estrada que me esperava.
A via láctea,
Que me anunciava o caminho a percorrer
O caminho de Santiago.
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