Porque insisto não sei
mas sei que o faço amiúde,
quase sem ter a noção,
quase sem saber o que faço.
Mas faço-o e o que vejo não estranho,
vejo um rosto envelhecido,
vejo uma vida vivida
que se expressa pelos cantos dos olhos,
que se pinta pela cor dos cabelos.
Não sei porque insisto,
não sei o que espero encontrar,
mas sei que é o retrato
do caminho percorrido.
Admito só uma forma de abate,
não aceito em vão o seu derrube,
e só para a nobre função da pasta,
consigo aceitar que se mate.
Olho para ela e vejo, no seu altaneiro porte,
a elegância, a forma e a importância da sua vida.
Respiro e sinto o ar, impregnado do oxigénio
que alimentando meus poros, me garante a vida na terra.
Como posso aceitar que outro ser, seja facilmente abatido,
deixando os viventes mais pobres?
Não, não aceito que aconteça e,
só o aceito com pesar,
para ser transformada em pasta,
em papel, em livros incandescentes,
de almas buscadoras de leituras,
de conhecimento e saberes.
Porque apesar dos nossos imensos defeitos
com algumas qualidades à mistura,
somos isso mesmo, Pó!
Um pó que se vai amontoando com o tempo
e com ele ao início retornará!
Entram a correr, apressados,
encostam-se ao balcão,
pedem um café,
sôfregos,
engolem-no de um trago.
Sentem a adrenalina a subir,
trepa-lhes o corpo,
atinge-os no cérebro,
desencadeia reacções e,
sentem-se, enfim,
preparados para um novo dia,
prontos a enfrentar o stress que esta vida,
mais que qualquer outra coisa,
lhes proporciona em quantidade.
Manhã cedo e já corre,
porque entre as folhagens,
bate no rosto e resvala,
pelo corpo se atravessa.
Sente-se já,
como anunciando o início
de uma época de parco calor,
e o sabor dos lençóis,
quentes e apelativos,
vêm-nos à memória,
à medida que esta brisazinha,
nos cerca e açoita.
Que bem nos sabe o calor,
que dos lençóis,
nos enche a alma,
que o corpo adormece.
Começaram a entrar timidamente
por entre a folhagem espessa que cerca a área protegida
do lazer e da piscina.
Lentamente e com eles aparecem os alados autóctones,
habitantes da zona verde, arborizada e tranquila
da paisagem do fim de semana.
Pousam sobre a relva e afundam as minúsculas cabeças
por entre o verde da relva ainda húmida do orvalho da noite,
debicam aqui e ali na sua profundidade e catam
coisas que só as aves sabem ser deliciosas.
Buscam alimento, migalhas ou simplesmente
pequenas sementes que encham os papos de tão alegres animais,
que afinal,
são parte desta paisagem de paz e tranquilidade que nos rodeia.
É o mundo, a natureza, o universo que desejamos em harmonia.
Sentindo-o assim tão forte,
zumbindo-me ao ouvido
soltando-me os cabelos
desequilibrando-me até,
me imagino que também para além do agreste,
pode haver nele algo de diferente.
Sinto por vezes a sua mansidão e sopra-me baixinho
nos mesmos ouvidos em que desesperado,
sopra raivoso e agressivo
e diz-me coisas de encantos,
embala-me o sono e empurra até mim sonhos
que nem imaginei ainda.
Uma brisa, só um pequeno sopro
e a vida correrá suave e os sonhos serão sonhados.
Uma rajada forte e agressiva e as ondas da inquietação
revolverão a mesma vida que podia ser de mansidão.
Porque a vida tantas vezes madrasta
não escolhe os alvos a atingir e eu sofro quando tu sofres!
Aperta-me o coração e magoa-me a alma quando te vejo triste
e amargurada com esta vida que não te contempla
com o céu que na terra que pisas e mais que ninguém merecias.
Sinto um aperto e uma angústia por incapacidade própria,
porque não consigo dar-te o paraíso que mereces e,
sofro contigo e choro contigo,
porque sinto que a vida não te dá o que deveria dar
e eu, não tenho como fazê-lo.
Sinto contigo e sofro contigo,
porque sei que o melhor do mundo seria pouco
e eu não compreendo porque ela te retira a felicidade
que devias ter e que eu tanto desejava que assim fosse
e por isso sofro contigo e choro sempre que te vejo chorar.
É que faz frio, mesmo estando calor!
São arrepios a percorrer a espinha
e no entanto,
está um calor de derreter.
Mas faz frio, mesmo estando calor!
É inadaptação a tanta mudança
é a incapacidade de acompanhar o tempo.
E faz frio, mesmo estando calor!
De sandálias calçado,
com as mais velhas jeans vestido
e uma simples T-shirt,
se apresentava no dia a dia
dos seus prazeres primeiros.
Viver, deixar viver e,
sobretudo,
aprender a conhecer,
apreciando o que pela vista lhe entrava
em catadupas desordenadas que depois,
pacientemente alinhava,
segundo as ordens que da alma recebia.
Vivia!
Com amor e prazer agradecido,
por tudo o que a vida lhe oferecia.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.