No sabor do escaldante dia
se sentia o abafo de um impiedoso sol.
Não havia sombra,
nada havia que refrescasse o corpo,
nem na passagem de outros apelativos corpos,
este nosso, se dignava mostrar-se vivo e
acutilante perante curvilíneas figuras.
Amolecido de calor,
Assim se encontrava.
Decorria a tarde de mais um dia da vida,
o corpo correspondia na sua lassidão,
não se mexia e nada o faria deslocar-se
da sua posição de espera e observação.
Via coisas, via gentes, via mundos,
mesmo assim, inerte!
Que este calor o adormece
para as coisas da vida que,
indiferentes, ao mesmo sinal o disputam.
Porque a utopia é necessária
para que os sonhos se desenvolvam
e porque olhamos a lua
querendo alcançá-la,
não deixamos nem queremos
deixar de tentar que a realidade,
que nos dias actuais nos avassala,
seja modificada em prol dos sonhadores.
Porque é com sonhos que o mundo
se desloca do seu habitual eixo
e se move para novos mundos
que nos obrigam a sonhos redobrados
para que a utopia seja realidade.
Para que sim!
Porque sim!
Este não é do nosso País,
está definido como sendo de outro País,
este não é o nosso interior,
porque é o interior de outro País.
Pasmo eu com estas coisas,
do que é nosso, do que não é nosso,
e olho, e perscruto, e procuro,
e na verdade, não encontro nada,
não vejo o que justifique tal divisão,
o nosso, o que não é nosso.
Encontro vida neste não nosso interior,
e pessoas, e gentes, e quem viva
o interior com a dignidade da vida,
aqui encontro alguma diferença,
entre o não nosso e o nosso próprio,
a diferença de interiores,
de dignidades com que se vivem,
a grande diferença das importâncias,
que se atribuem a cada um dos interiores.
Afinal, somos só dois Países, somos vizinhos,
nesta proximidade e vizinhança nos chegamos,
e somos famílias, e somos ambos,
de um e outro lado destas fronteiras inexistentes
mas desenhadas num papel,
ambos vizinhos, ambos de diferentes Países,
ambos do mesmo esforço comum,
ambos em crise, mas tu melhor que eu.
Quando a tua pequena mão,
no meu dedo se enrolou,
senti um fugaz relâmpago,
que meu coração iluminou.
E dessa vida que já é vida,
veio a sensação de que entre nós,
algo se havia trocado,
ainda não um olhar,
mas uma pequena comoção.
Finalmente conhecemo-nos,
carne com carne,
coração a coração,
e nesse preciso momento,
apaixonei-me por ti.
Reflecte-se e vejo-a,
ali mesmo, no prato,
caiu-me a nuvem no prato,
e levantei ao céu a cabeça,
penso na nuvem, penso no prato,
decido-me pelo segundo,
porque a primeira brilha,
enche-me o prato de glamour,
que só as altas nuvens possuem,
inunda-me a alma,
mas o segundo, esse sim,
o segundo enche-me o prato também,
mas enche-me a barriga,
apesar de manter a alma,
isenta de enchimento.
Debaixo de tantos sorrisos,
alguma amabilidade e até,
palavras de solidariedade,
escondia-se a hipocrisia,
que eu, nada mais que um mero passante,
senti nas costas como lâmina afiada,
a traição que achava não merecer.
Porque assim era não sei, a não ser uma hipótese,
que nem sequer merecerá ser uma tese.
Era a sombra,
do que tinham medo, era da sombra que porventura faria,
que nunca fiz nem imaginei fazer,
que lhes trazia o medo infinito, de deixarem de brilhar ao sol.
Tristes coitados que de uma simples e hipotética sombra,
sentem o terror das suas vidas,
e traem nos pormenores mais abjectos.
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