Tentar, eu tentei, muito mesmo,
esforcei-me até à exaustão!
Mas acabei por desistir,
afinal, parece que esta tecnologia digital
não é para a paciência que eu lhe dedico,
ou então a minha está muito por baixo!
Primeiro verifiquei as pilhas
estava tudo certo, cheias de vigor energético,
pressionei o botão, “mode”, assim rezava,
pesquisei e tentei várias vezes chegar à hora para a acertar,
nada de nada e mais uma tentativa
agora com o botão de “set”…..
nada de nada, com a agravante de que
quando pressionava um, accionava os dois!
Chega, disse eu, desisto, isto não é para a minha paciência!
Fui à prateleira das velharias e de lá retirei a peça,
um velhinho relógio analógico!
Desses em que se accionava o senfim com umas voltas da corda,
depois de se acertarem manualmente os ponteiros!
Pronto! Consegui, lá mudei a hora para a hora de verão
com a vantagem de ter, ao mesmo tempo,
um meio de adormecer extraordinário, mesmo à antiga!
Era um tique-taque sincopado e certinho,
pelo menos enquanto o ouvi,
e segundo a segundo, lá me foi marcando a nova hora!
Entrei no horário de inverno sem a era digital
mas com um prazer renovado e um sono reparador!
Pelo vosso olhar passa um raio de sol,
e nele distingo alegria,
dele,
sobressaem os sorrisos de duas almas puras,
neles encontro a felicidade estampada,
de ser criança e inocente.
Cantam os galos no campo,
fazem-se ouvir a qualquer hora,
seja tarde ou cedo!
Começam ainda o dia não acordou
e prosseguem sempre que a vontade lhes dá.
São os galos do campo!
Vivem em liberdade na imensidão
deste campo que lhes dá por companhia
uma infinidade de galinhas e,
sempre que cantam,
temos ovos frescos pela manhã.
Cheguei ao cimo, quase no topo da montanha
que se faz cordilheira,
o silêncio, entrecortado aqui e acolá
pela algaraviada dos pássaros
que nos pesa como única companhia.
O zumbido de uma abelha corta este silêncio,
desvia-nos o olhar para o que a natureza nos reserva,
para os pequenos seres que compõem o mundo.
O silêncio de que se goza entre plantas,
árvores e pequenos animais,
enche-nos a alma da pureza do universo
e reparamos na ramagem de vetustas árvores,
quase com barbas e quase brancas,
um sinal inequívoco de que o ar que respiramos
se encontra no estado mais puro.
Um prazer que se procura
e só se encontra na natureza.
Porque quando te olho
vejo o teu sorriso rasgado,
aberto e franco,
como o perfume de uma primavera
que ainda agora desponta.
Sorris como o sol que desponta
e ilumina toda a humanidade,
tendo em mim o escultor atento
que o molda na minha alma.
Neste silêncio que procuro
me encho de todo o ruído envolvente,
sinto-o pesar quando dele me abstraio,
fica um fundo, lá longe,
enquanto o pensamento vagueia e viaja
muito para além da fronteira que me cerca.
Ouço-o bem perto, juntinho a mim,
afasto-o do meu silêncio que,
com ele não pactua
vibro nos sons e pensamentos
quando atravesso esta galáxia
que me permite, sem grande esforço,
suporta e engrandecer para mim
tanto e ruidoso silêncio,
que me dá paz e me sossega a alma!
Pela manhã, ao pequeno almoço.
Três comprimidos!
Um para isto, outro para aquilo e,
ainda outro, para mais qualquer coisa.
Três comprimidos!
Todos os dias e à mesma hora.
Três comprimidos!
O tributo da idade à vida que se prolonga.
Já se vêm para lá da lonjura neste azul
esverdeado de esmeralda pintalgado.
Velas brancas sobre um minúsculo ponto,
que sobre este mar se aprontam.
Vêm firmes e pelo vento açoitadas,
que do Sudoeste as transformam
nas asas de sonho de quem ama o mar.
E as saudades são imensas!
E a vontade de o sulcar redobra,
mesmo sabendo que sozinho,
como antes o fazia,
a vida já não o permite.
O mar e um barquinho à vela,
toda uma vida de sonho.
Em boa verdade, até acredito
que me queiras cobrar,
por ter estacionado em ti.
Cheguei e aqui fiquei,
sem sequer olhar para os sinais
que poderiam, eventualmente,
condicionar o meu aparcamento.
Não dei razão ou importância
Ao que a razão me aconselhava,
simplesmente ouvi o coração
que tantas e repetidas vezes nos trai.
Cheguei e estacionei!
Sem sequer pensar no que cobrarias
Ou mesmo nas multas estabelecidas
Por tão grande ousadia e abuso.
Cheguei e estacionei!
Porque assim me sinto
quando por tuas mãos
me deixo pintar.
E são cores diversas,
pinceladas de várias formas,
compondo o poema que nesta tela
será visível ao longo da composição,
que o artista leva tempo,
saboreia e aprecia cada uma das formas
com que vai moldando
a arte que se expõe,
em sentidos de alma as sinto,
e por cada uma delas,
mais a tela se compõe para a vida.
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