Tenho silêncios… (2017-11-04)
canetadapoesia
Tenho silêncios que não quebro,
por respeito à poesia.
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canetadapoesia
Tenho silêncios que não quebro,
por respeito à poesia.
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Fiquei em silêncio,
olhando sem ver,
ouvindo sem ouvir,
falando sem falar,
só o silêncio respondia.
Pode não ser de ouro,
como dizem,
mas era o meu silêncio,
e para mim era mais que ouro,
nele tudo se expressava.
Era o meu silêncio.
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Atravesso a madrugada,
em silenciosas pontas de pés,
o ruído ausente na noite
exacerba-me os sentidos,
e um ouvido quase nulo no dia,
transforma-se numa máquina de captação de sons.
O cão sobe as escadas, dá três voltas e,
encolhe-se no catre estrategicamente colocado,
na noite, agora,
só o barulho ensurdecedor do virar das páginas
de um livro denso e que já vai longo,
da parede oposta saem sons nocturnos,
de uma esgazeada noite não terminada ainda,
rangem as camas, gemem as pessoas,
não me afectam, oiço e sorrio, a noite dos sonhos.
E de repente o silêncio absoluto cai no mais profundo dos oceanos,
nesta noite escura, quente ainda,
que para mim começa agora.
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As pedras calcadas,
gastas até à exaustão,
reflectindo a cultura,
demonstrando a exactidão
de quem laboriosamente as coloca,
criando desenhos,
pintando sonhos,
alindando Lisboa.
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Se passaram! Anos sobre anos!
Foram tantos que os podemos contabilizar,
em mais de quarenta.
De tanta promessa feita, de tanta demagogia distribuída,
nada se viu até agora que nos permita afirmar que,
o paraíso na terra das promessas não foi alcançado uma só vez!
Em troca do mel e especiarias prometido,
foi entregue em caixas herméticas,
o chumbo da morte, a perseguição e o saque generalizado
que em má hora lhes foi permitido.
De tantos anos de uma guerra que,
apesar disso, desenvolvia e criava,
se substituiu por outra, mais mortífera e destruidora,
ujo prolongamento se perdeu no tempo
pelo triplicar dos anos que durou!
Das promessas…
Restou a miséria com que milhões de seres sobrevivem,
Para bem da meia dúzia que os encheu de promessas
de futuros risonhos, cheios do pote do mel a que nunca chegaram.
São as abelhas humanas que ao contrário das reais,
não produzem o mel, mas sugam as flores,
distribuindo a morte e a miséria para seu próprio proveito!
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Quase sempre é assim,
e sempre que se retraem,
quando se recusam a questionar,
a tirar qualquer dúvida,
a esclarecer um assunto necessário,
recolhem-se humildemente ao silêncio.
Quando, por fim, podem expor,
tudo o que lhes vai na alma,
no anonimato de uma folha apócrifa,
despejam o fel e o vinagre,
sobre quem os quis sempre apoiar.
A natureza humana no seu melhor,
no escuro profundo dos seus silêncios,
na coragem e bravura do anonimato.
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Soltas e espalhadas
pelos calores que do sol
as agarram ao verde da relva,
as pombas de Lisboa,
espraiam-se pelos jardins
desta cidade que,
até podia ser maravilhosa.
Nas suas cores outonais,
com vislumbres do calor
de um verão mal terminado,
Lisboa dos amores
e dos eternos calores,
sempre maravilhosa,
apesar de poder não o ser.
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Ao cair da tarde,
depois de lauto almoço,
africano no gosto e na poesia
dos encontros esquecidos,
de um tempo inesquecível,
solta-se o som de uma música
que não é indiferente,
crescemos com ela, vibrámos com ela,
e com ela nos reencontramos
ao cair da tarde de Lisboa,
como se fosse diferente do cair de tarde do Prenda,
ou de qualquer outro dos bairros da meninice,
em que o som dos batuques
anunciavam a noite quente de África.
Ao cair da tarde,
o som da saudade, a poesia de uma vida,
rica em diferenças poéticas.
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Na abstracção total,
entrecortado o silêncio
pelo longínquo ruído das vozes
que na tarde não se apagavam.
Fez-se luz.
Olhou à volta e viu o mundo
das diferentes gentes que por ali deambulavam.
Um mundo de diferenças,
um mundo de semelhanças,
um mundo por acertar.
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Tenho saudades que não demonstro,
por pudor e recato.
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