Sente-se muito ou não se sente sequer
quando a terra gtreme e tudo estremece.
Porque aqui também tremeu e eu
não senti nada de nada,
consta mesmo que a escala atingiu
quase o meio da tabela e,
não senti nada de nada.
Deixo as pessoas incrédulas porque
não senti nada de nada.
O facto de não sentir a terra tremer
não faz de mim um insensível,
talvez um pouco distraído, nada mais.
Se de sensibilidade falarmos vos digo,
que sim, sou até muito sensível,
não a tudo,
talvez seja mesmo selectivo em matéria de sensibilidade,
há coisas que que me despertam mais os sentidos,
a terra tremer, se não for muito perto,
passa-me despercebida,
porque a terra tem muito mais coisas que me despertam
para sensibilidades muito maiores.
Na paranóia da história,
o eco das lendas obscuras,
de ovnis ou discos voadores,
portadores de tantos presságios,
senti que, como na Idade Média,
por entre erráticas alusões a espíritos,
e outros mais que nos povoavam o imaginário,
careciam todos de efeitos práticos,
que o narrar dos seus efeitos pedia.
Devia tentar segurar-te de todas as formas,
e todas elas foram infrutíferas.
Devia pegar-te por cima e picaste-me,
segurei-te mais abaixo e voltaste a picar-me.
Devia ter logo percebido, mas demorei algum tempo.
Devia estar habituado com os picos da vida e não estava,
não consigo habituar-me.
Devia saber que é da natureza das coisas,
que cada uma tenha a sua própria reacção,
a sua própria defesa.
Devia saber que não somos todos iguais.
Devia saber que alindas as casas, os muros e os jardins.
Devia ter a noção de que afinal eras um cacto.
Vomitam ódio a tudo o que seja diferente das suas opiniões
não aceitam que alguém possa pensar diferente
exprimir outras vontades, outros sentires ou até,
imagine-se a ironia da ironia,
ironizar com coisas que férrea e cegamente defendem
como a luz de todos os olhares.
Insultam como linguagem normal
de seres que se julgam civilizados e educados,
mas não suportam que alguém lhes diga o contrário
daquilo em que acreditam e constituem como verdade absoluta.
São os arautos dos novos e tormentosos tempos
da irredutibilidade de opinião,
porque a nossa é lei e a dos outros lixo.
Simplesmente inocentes mentais que,
à força da falta de argumentação civilizada,
impõem a boçalidade como forma de discussão,
insultam, insultando-se a si próprios
pela nuvem que lhes tolda o pensamento.
Caminhamos pela cidade num dia cinzento
não chove, mas “morrinha” aquela água
que ainda não é gota para pingar,
molha-nos pela insistência com que nos brinda,
sobretudo encharca-nos a alma
pelo tom triste que dá a esta cidade de luz brilhante.
Enchemo-nos de turistas de todo o mundo,
que aqui acorrem agora que é a meca do deslumbramento,
sentimo-nos parte do universo em que vivemos,
de que estivemos separados por tantos anos.
Conhecer recantos inolvidáveis que a vista,
na sua constante e teimosa pesquisa,
nem sempre descobre à primeira passagem
mas aparecem-nos pela constância das nossas visitas.
Sentimo-nos de acordo com o dia, cinzentos,
mas clareando a mente a cada nova esquina,
composta, recomposta e sobretudo recuperada
para as cores de uma cidade que não pode ser cinzenta,
que mais dia menos dia, recupera as cores
que a caracterizam e a tornam bela e conhecida,
que fizeram deste um povo feliz com o pouco que tem.
Por que só sei de ti o que me contam
e nem sempre o vento me trás as novas que anseio,
imagino-me a sentir-te nos braços,
a acalorar-me com o o calor do teu corpinho,
sentir os meus dedos envoltos na tua mão,
anseio o encontro entre nós.
Tenho tremores no corpo e ansias na alma
ao pensar no dia em que carinhosamente te erguerei
nos braços receosos por carregarem tão precioso tesouro.
Já me vejo de mão dada atravessando as avenidas
de um mundo que será só nosso,
olhar para ti com olhos marejados de lágrimas
que a felicidade me traz e descobrir na tua face rosada,
o sorriso encantado dos anjos na terra.
Porque já te amo sem ainda te conhecer,
nestas linhas deposito as sensações que vou atravessando,
até que te abrace e juntemos oi bater dos nossos corações.
O anúncio chegou pelas vias mais actuais,
uma simples mensagem digital dizia:
“It’s a girl, again”.
A minha comoção foi imediata,
mais uma Princesa a acrescentar às outras duas
para me encher o coração de um bem-estar
só possível nos grandes momentos,
naqueles que a vida nos proporciona
ao permitir-nos conhecer quem a vida gerou.
Não consigo explicar o sentimento,
a sensação de saber que Francisca será o seu nome,
mais uma menina no horizonte.
Sinto-me alegre, contente, feliz com a vida,
agradecido ao mundo e reconhecido a Deus,
por me permitir conhecer mais este sal da vida.
Não podia evitar mais uma lágrima de felicidade,
de amor pelo ser que já é e que quero ter nos braços
logo aos primeiros alvores da sua vida,
com quero trocar umas palavras de amor e carinho
que nos unirão para o resto da minha vida.
Mais uma menina, mais uma lágrima de felicidade
neste rosto cheio de amor pela Francisca que aí vem.
Sem descanso e poucas paragens
toda a noite a dançar,
mexendo o corpo para começar o ano
sem entraves de mobilidade.
No frenesim da comemoração,
com o corpo a latejar, regado do suor
que a dança proporcionava,
pulando sem cessar, dançando aos quatro ventos,
ia tendo rasgos e tempo de recordar.
Via-me assim, nos meus dezassete anos e uma vida pela frente,
mil novecentos e sessenta e sete,
o último ano da minha adolescência inocente,
que no seguinte seria cadastrado, fichado e reservado,
para que outra vida tivesse lugar durante quatro longos anos.
Por muitos anos que ainda viva estará marcada na pele
a memória que vai corroendo o corpo,
destabilizando o sono que deveria ser dos justos,
deixando a alma inquieta por um tempo que sucedeu a outro.
Sentia-o chegar sem que se anunciasse
muito mais do que o calendário indicava,
era novo e substituiria o velho que,
de tão cansado se ia já deitando.
Mais um ano, pensei com estes botões
que desmesuradamente me apertam o fôlego,
não um ano qualquer mas aquele que sucede a outro
que deixou na boca o sabor amargo de tanta guerra pelo mundo.
Desejei que entrasse da melhor forma,
em festa e com foguetório para que os males,
que desejávamos afastados,
não se atrevessem a aproximar e nos permitissem
realmente um novo ano de paz e serenidade,
para que ao olhar a lua o façamos de coração aberto.
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