Pingo de água
canetadapoesia
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Três pedras iguais, três pedras diferentes.
Uma preta, uma branca e a outra, um mistério pois é a mistura das duas anteriores.
Três pedras iguais, três pedras diferentes.
Recolhidas na praia por serem roliças, lisas, tão diferentes entre si que suscitam alguma reflexão e, no entanto, simplesmente três pedras, calhaus o que se queira chamar-lhes.
Desde logo me questiono sobre o que pode conter uma pedra?
Uma alma, um sentimento, um mundo dentro de si?
Prosaicamente, grãos de areia solidificados, limados das suas arestas ao longo de centenas, milhares de anos até.
E um dia, apanhadas na praia porque alguém lhes encontrou alguma beleza, algum não sei quê de diferente.
Tê-las na mão é, já de si, uma experiência nova, diferente.
Senti-las húmidas de água salgada e acabadinhas de rolar na areia de onde foram retiradas, ou, talvez, quentes do sol abrasador que as fustiga impiedosamente até que uma próxima onda as envolva de novo no seu sal molhado.
Três pedras iguais, três pedras diferentes.
Uma muito branca, outra muito preta, outra, ainda, de ambas as cores.
Coexistem no mesmo mar, envolvidas pelas mesmas ondas e roladas na mesma areia e no entanto simplesmente pedras, pedras de várias cores e sem nenhum espírito de separação entre elas.
Limadas até ao extremo em que a sua textura se torna suave e macia ao tacto, três pedras.
Se nada mais dissessem seria suficiente gostar delas e guardá-las, mas dizem, dizem muito daquilo que é o mundo em que vivemos, como se formou, como se desenvolve, como se coexiste entre pedras que são brancas umas, pretas outras e de ambas as cores, outras ainda.
Três pedras iguais, três pedras diferentes.
E no entanto fica a pergunta, o que podem conter estas três pedras?
Conterão, pelo menos, uma lição de vida, três pedras de cores diferentes coexistem pacificamente nas praias que frequentamos.
Os humanos não conseguem coexistir porque lhes faltam muitos anos para limarem todas as suas arestas e ficarem lisos, aveludados e macios aos contactos dos outros humanos.
Tempo é o que precisamos para limar as arestas.
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