Carta em branco (2016-12-09)
canetadapoesia
Escrevi-te uma carta,
em branco,
envelopei-a e selei-a
para o correio ta levar.
Na carta não escrevi nada,
mas na sua página em branco,
estava tudo o que havia a dizer.
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canetadapoesia
Escrevi-te uma carta,
em branco,
envelopei-a e selei-a
para o correio ta levar.
Na carta não escrevi nada,
mas na sua página em branco,
estava tudo o que havia a dizer.
canetadapoesia
Primeiro vai-se entranhando, entrando devagarinho,
enche-nos o peito e deixa-nos a alma em farrapos.
Imaginamos o inimaginável e sonhamos
com regressos ao ponto de uma partida apressada,
acossada pela irascibilidade do racional que se preparou
para nos tomar aquilo a que nunca demos valor.
Corremos a pôr-nos a salvo, a proteger os nossos e a esperar
que a irracionalidade desaparecesse, que acalmasse,
que finalmente percebesse que também éramos gente
daquela gente, daquela terra,
do sítio onde nascemos e vivemos lado a lado.
Depois, passa o tempo e a resposta que tarda em chegar,
nunca é recebida!
Porque não queriam, porque não interessava,
porque seria diferente se não nos tivessem escorraçado,
o roubo descarado não seria consentido e, nessa presunção,
nos traçaram o destino… a diáspora!
Mas cansamo-nos, satisfazemo-nos e agradecemos
o terem-nos recebido e protegido,
ainda que em terras que nem conhecíamos,
chegamos ao ponto em que o retorno já não é possível,
mesmo que o quisessem e não querem!
Portanto, só nos resta circuncisar a saudade,
extrair do coração qualquer resquício de vivências passadas,
apagar as palavras escritas a giz branco
no quadro negro desta passagem de uma vida,
finalmente dizer sem parcimónia…
Estou na minha terra, aquela que me acolheu!
Estou em casa e nela contínuo a receber todos
os que me não quiseram nas suas,
porque esse é um princípio que extraí desta nova terra
que durante tantos anos me tem protegido.
Não falo nem me interessa o que se passa na outra,
recuso-me a tecer comentários, bons ou maus,
simplesmente a apaguei do mapa mental da minha alma.
canetadapoesia
Sem imaginar ou pensar sequer,
apanhado nas malhas de um império
que caminhava sobre brasas,
sem saber como as apagar!
E os homens já não o eram,
e o povo perdeu a noção
na voracidade dos dias de uma ira
orientada para o ódio que não devia existir.
No seguimento de anteriores injustiças,
novas foram criadas e justificadas
com a luta contra as outras e, nesse afã, se ostracizaram
coisas e sobretudo pessoas,
se denominaram uns contra outros,
esquecendo-se que repetiam o que queriam combater!
Redobraram as injustiças sem a sensatez que o momento exigia,
foram dias de euforia, foram dias de amargura,
foram dias de alegria e dias de muita tristeza!
Foram dias! Dias que a história julgará!
canetadapoesia
Tão simples que admira quando se admiram,
o cerne do capitalismo como o vemos hoje,
não se concentra em “tirar milhões a poucos”,
mas, ao contrário,
“tirar pouco a milhões”.
canetadapoesia
Ao longe, mal se nota,
mas vai engrossando,
encrespa-se na aproximação e,
com estrondo se desfaz na muralha
de uma fértil imaginação,
que não a vê aproximar-se, mas imagina o efeito
de tão devastadora força destruidora.
Fica a espuma da explosão de raiva,
da força que tudo arrasta,
que desafia a racionalidade das coisas
e a perspectiva de vida que agora se arrasa
no horizonte imaginado,
numa vida destroçada e vazia,
sem futuros previsíveis ou mesmo contrários,
a solidão de noites desertas e dias
em que o temporal não amaina.
canetadapoesia
A caminho de não sei onde,
porque poderá ser da distância ou dos problemas da vida
que encabrestem a sensibilidade,
retirem até a capacidade de olhar e apreciar,
passas lesta e absorta.
Passas, pois, sem dar por mim no encontrão do nosso encontro,
despertas os entorpecidos sentidos,
com desculpas e a tristeza no rosto me olhas e encaras,
de cabeça baixa, mas não tanto que não distinga,
nos cantos mais extremos de teus belos olhos,
duas lágrimas pendentes de uma abrupta queda.
Sem que me seja dado o ensejo
de tais pérolas enxugar com o desejo dos meus beijos,
segues lesta no caminho que te levará
para além de mim, lá para não sei onde.
Passa lesta e absorta,
sem que eu consiga inverter as pérolas que te caem dos olhos.
canetadapoesia
Não te aproximes agora
que o desejo de afastamento
que em aziaga hora me inculcaste
não se apazigua com desculpas!
Não te aproximes agora!
Porque a ferida está aberta,
porque a cura não se verga
a qualquer desculpa tardia.
canetadapoesia
De um vôo rasante à terra
logo pica em direcção à lua envergonhada
voltei-a a meio
em acrobacia instável,
retorna ao vôo e pica em velocidade,
rumo à terra que lhe serve de suporte.
Lá do alto vislumbra um minúsculo grão
que lhe vai alimentar o corpo.
Pica e volteia, sobe e desce, vive o vôo,
vê a terra lá do alto,
aproxima-se ou afasta-se
de acordo com os seus humores de gaivota.
canetadapoesia
Se pensar bem,
talvez desligue,
talvez deixe de me preocupar,
se pensar bem…
porque na verdade,
de nada adianta
manter-me ligado!
Porque já não me interessa,
porque já não me diz respeito.
Se pensar bem…
canetadapoesia
Deambulando pelas ruas de outrora,
as mesmas ruas, os mesmos edifícios, as lojas quase extintas,
as de outrora!
As que conhecíamos!
Que as novas já não conhecemos
nem sentimos o seu cunho ancestral.
Onde havia referências há hoje inconsequências,
diferentes visões da vida,
diferentes aspectos da cidade.
Quase sem referências!
Pelo menos sem as referências
que de outro tempo, atitude e qualidade
nos guiavam na cidade.
Estamos sem as nossas referências!
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