Era uma praia muito vulgar,
muito procurada e desejada
porque nesta praia,
tão vulgar quanto desejada,
as crianças não corriam o perigo
de serem arrastadas por ondas revoltas.
Uma praia vulgar com areia tão fina
que não se conseguia agarrar,
quando se tentava fazê-lo
fugia-nos por entre os dedos das mãos.
Era uma praia vulgar e só desejada por isso mesmo,
por ser vulgar e ter areia,
por ser segura e ter crianças
que no extenso areal brincavam
fazendo castelos que da areia se erguiam.
Por ser segura e ter crianças era uma praia vulgar
onde as pessoas se sentiam bem
sabendo que outras também assim se sentiam.
Tentei desviar-me, mas já era tarde,
senti que o estrago feito seria irreversível.
Pisei um carreirinho cheio de pontinhos negros,
formiguinhas atarefadas
correndo de um para outro lado,
vergadas ao peso de pequenas partículas,
não sei de quê, mas certamente
uma parte importante da sua vida futura.
Um carreirinho cheio de inocentes formigas
trabalhadoras e atarefadas com a proximidade do inverno,
e eu esmago-lhes o carreirinho, desoriento-as!
Destruo de uma pesadas, a vida de não sei quantas formiguinhas.
baixo-me para constatar o inevitável,
aproximo mais os olhos e com surpresa verifico
que apesar da violência do espezinhar,
não magoei uma só das laboriosas alminhas!
Um alívio de cima a baixo.
Afinal não sou um destruidor de ambientes
como por breves momentos,
se me atravessou nesta cabeça atormentada.
Salvaram-se as formiguinhas, salvou-se um pouco do mundo!
Nem sequer uns fiapos de brancas nuvens,
só o azul celeste que empresta ao céu
todo o aspecto do paraíso na terra.
Ao longe viam-se umas coisas
penduradas nesse céu azul sem nuvens,
pareciam pássaros, enormes, vistos desta distância,
todos balançavam pendurados no céu!
Como o fazem se não se vê como?
Voam!
Voam nas asas da realidade que um dia,
foram sonho de alguém.
Felizes voam,
pendurados no céu azul celeste
sem um único fiapo de nuvens brancas
e balançam para lá e para cá
ao sabor de um vento,
que lá do alto,
os acarinha no seu balançar.
O vento é inconstante e vai,
vai para todo o lado,
investe de mansinho e silencioso
ou rodopia,
remoinhando agreste,
uivando como alcateia.
O vento é inconstante e vem,
vem de todos os lados,
aparece de mansinho e silenciosamente,
ou chega-se raivoso,
gritando que nem um possesso
levando tudo à sua frente!
O vento é inconstante,
se por vezes nos consola dos calores do quente sol,
outras vezes,
traz consigo a desgraça dos fogos que arrastam
a destruição e a morte!
Os ventos são inconstantes!
Encostas-te assim, perdidamente,
em prantos que muro nenhum enxerga!
Escorrem-te as lágrimas
por esses sulcos de um rosto marcado
pelo tempo que o tem esculpido
com o martelo e escopro da vida.
Choras convulsivamente,
pelo mesmo motivo que tantas outras
mulheres de todos os tempos
também choraram e assim continuarão.
Motivos serão muitos e todos de monta,
a razão será sempre uma,
a única sem razão que é
seres mulher e sofreres por isso!
Conta-me ao ouvido,
vai-me dizendo o que sentes,
assobia baixinho a música que te agrada.
Para mim será sempre Mozart!
Entre prelúdios e molto vivace,
dança, dança para mim!
Na memória em que te retenho,
mantendo acesa a chama que será eterna,
com que marcaste minha alma,
ainda te vejo em esvoaçantes passos
de uma imaginária e voluptuosa dança.
Por isso te peço que me cantes ao ouvido,
que me vás dizendo o que sentes,
que me assobies baixinho
todas as músicas que te agradam,
que me provoques com o palpitar do teu coração ardente
e que me exasperes com o arfar da tua respiração!
Fá-lo sempre que queiras,
sempre que me quiseres dizer algo
a estes ouvidos que escutam
o assobiar baixinho da tua música.
Dança-me na alma e faz-me dançar
em todos os sonhos que me provocas.
Quando o acordar nos traz a noção,
a percepção da realidade sentida,
quando damos pela necessidade
do calor que nos acalenta o ninho e,
nesta cama muda de acontecimentos
só encontramos o frio dos lençóis,
sentimos o sopro do mundo que
de uma assentada nos varre a vida.
Não adianta a procura, de nada serve a busca,
porque há calores que só apanhamos
uma vez na longa viagem da existência.
Quando este se perde,
qualquer outro pode substitui-lo,
momentaneamente, por breves momentos,
mas nunca mais nos aquecerá o ninho
e nesta cama que foi quente,
já só há passagens de ventos do Sul…
quentes enquanto duram!
Porque assim deve ser
abrangente e igual para todos, a lei!
Que deve ser universal,
nunca uma lei para uns
e outra para outros.
Porque se assim não for,
que assimetrias, injustiças,
e outras coisas mais vai criar,
sobretudo, endurece posições
que de combate já tudo têm.
Faça-se a lei ou melhore-se,
porque já existe,
mas não se criem divisões
que por ela se venham a verificar,
ou isto deixa de ser um País e um Estado de Direito
e passa a ser um de bandalheira,
onde livremente grassa a ignorância
no magistério da governação pública!
Aquietem-se os inquietos
que as águas se separarão,
para que os mundos não se toquem.
Cada um trará consigo
os animais que aprouver
e no seu conjunto,
num futuro qualquer se juntarão e,
unindo-se os mundos,
novos mundos virão e o universo,
que estica e encolhe,
os acolherá no bojo da sua grandeza.
Novos mundos ou velhos para que
neste nosso universo nada se perca e nada se crie…
Tudo esteja em constante e eterna mudança!
Sabe-me a música e sinto borboletas
quando bate um vento de esperança
e é a trompetes que me soa a música
que no ar se expõe sem que ninguém a ouça.
Sinto-a vibrar e soar a meus ouvidos,
mas também é verdade que sou eu que,
nesta ansiedade indesejável,
a sinto e ouço no ar
e que me enche a barriga de borboletas,
de cada vez que são
o som da esperança que espero ouvir!
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