O regato (2018-11-28)
canetadapoesia
Sigo-te desde que nasceste e vi-te procurar
o caminho que te encaminhará sei lá para onde,
eras límpido e transparente e como todos os jovens
corrias louco e descias encostas desenfreadamente.
Eu seguia-te e vi que alargavas e engrossavas,
depois do último salto sobre as pedras maiores
mergulhaste no abismo onde te perdi.
Passei a ver-te de longe com o respeito que já merecias,
largo, profundo e turbulento em certos momentos,
quando finalmente consegui atingir o fim do teu correr,
dei por mim espantado e boquiaberto,
já não eras o meu regato que em tão tenra idade acompanhei.
Eras agora um rio de tamanho tal que não distinguia as tuas bordas,
não conseguia sequer saber se estava perante o rio
que outrora foi o meu regato,
ou estava agora perfeitamente imbuído num mar
cujas águas revoltas e ameaçadoras
se misturavam com a mansidão com que te conheci.