Vai-se despegando do dia este sol majestoso,
cai a tarde de mais um glorioso dia na terra,
com ele se sente o fechar dos rostos alegres
que o sol, no seu deambular diário,
vai abrindo em sorrisos para a vida.
De senhos cerrados caminham agora,
passos apressados ecoam nas ruas e calçadas
de uma cidade prestes a enclausurar-se
fechando-se na noite em que a escuridão
tudo permite e oculta de olhares atrevidos.
Enchem-se os transportes públicos de gente
que corre e se empurra na ânsia desmesurada
de encontrar um espaço apertado e único
entre corpos suados e cansados de fim de dia,
alguns perfumados com o aroma dos simples
cujo excesso esconde o cheiro de uma vida triste
cujos horizontes se limitam ao que diariamente
alcançam como trajecto de vida cinzenta,
as estações de entrada e saída e, no regresso,
o vice-versa do mesmo caminhar.
Nos rostos não se vislumbra felicidade
porque a violência da cidade o impede
e a rudeza da vida não o permite.
Sem grandes parangonas nem ambições,
somente sentir o momento das coisas,
assim me ponho a compor frases
juntando letras e formando palavras
no anonimato do meu caderninho
onde as verto sem ambicionar o estrelato.
Escrevo porque gosto de o fazer, sem mais,
quantas vezes com coisas que nascem
de uma alma simples que deseja ver iluminado,
em páginas escritas o que por lá se vai construindo
em catadupas de emoções escondidas,
acumuladas nos dias que passam.
Não procuro ser um talentoso, mas sim,
manter-me o simplista que toda a vida me caracterizou.
Gosto especialmente quando as palavras
libertas na sua inocência e simplicidade,
se soltam em gritos silenciosos,
caindo umas atrás de outras nesta folha
cuja brancura vou tingindo de sensações,
tudo com o desprendimento de quem
gosta de apreciar os pequenos nadas
que a vida vai mostrando na sua,
quantas vezes, atroz complexidade.
Sei que a poesia se escreve, que se sente,
tenho a certeza que se ouvem os seus acordes.
Do seu som, sibilino, galante ou desesperado,
saem as mais belas melodias,
em todas elas se releva a beleza das notas
que ao juntarem-se em pautas imaginadas,
nos enchem o coração e nos preenchem a alma.
Sons que se entranham das formas mais inesperadas,
e vêm do sentir, não da razão que a racionalidade impõe.
Se a escrevo porque a sinto nos momentos mais improváveis,
é porque a sinto também vinda desta alma que se atormenta,
quer nos momentos críticos, de ódio ou desencanto,
mas também naqueles em que o sentimento aplaude.
Escrevo o que me vai na alma, poetizando, por puro prazer,
sentindo no ouvido, o som que a poesia lá coloca e me encanta,
sabendo que à minha volta os anjos solfejam palavras,
e choro com lágrimas interiores, todos os poemas,
que embelezam o espaço que me envolve no seu som.
Porque o dia
não se finda com a noite,
e esta,
só existe para que,
descanse repondo sensações,
que o acordar é já ali
e pronto tem de estar,
para de novo e resplandecente,
fazer o dia nascer!
Sente-se a alma acariciada pelo calor
que o sol no corpo derrama,
sente-se o corpo revigorado
por esses raios que se estendem até ele
e reavivam-se as esperanças
criando as certezas de que a cada dia,
que de novo o sol nasça e em nós se detenha,
mais renhida se torna a luta,
para que a vida valha a pena,
e nela caibam todos os sonhos e esperanças
dos que pela alma se deleitam
na adoração ao sol que os aquece.
No silêncio que impera na habitação
Sente-se o peso do que não se ouve.
No ranger de lamentos próprios
Dos anos de passagem como casa
Ouve-se a ausência dos risos e gargalhadas,
Com que as infâncias enchiam os momentos de vida
Que entre estas paredes existiu
Que aqui foi, talvez, feliz
Que fez a felicidade de alguém.
É uma casa que já foi um lar e agora
Nada mais se ouve ou sente a não ser
O sincopado bater do relógio de corda
E cuja caixa de madeira amplia a sonoridade.
É uma casa cuja alma ainda se sente
No que já é longínquo no ouvido
Uma habitação que foi de amor e carinho
Largada ao mundo do silêncio que não se escuta
Mas que se sente no intrincado das almas que a habitam.
Faz anos, muitos,
e tu pequenina a conhecer o mundo,
da pior maneira possível em tão tenra idade.
Era noite, quente como só nos trópicos,
meti-te no avião e esperei que partisse,
dormi melhor nessa noite,
sabia que para onde fosses,
para onde esse avião te levasse,
estarias em segurança apesar de tudo,
a segurança que a tua terra não te dava.
Amei-te desde o primeiro dia em que te não pude ver nascida.
E quase numa caixa de sapatos,
foste embalada pelas asas do vento que o avião sulcou,
deixou-te em Lisboa,
onde cresceste e te fizeste mulher,
terra que passaste a amar como ninguém,
mesmo não tendo sido justa contigo.
Faz anos, muitos anos e jamais me esquecerei.
É coisa de bicho e nome que se lhe aplica.
Nos humanos, que não deixam de ser bichos,
a coisa é séria e ao mesmo tempo
prazeirosa para os ditos bichos humanos.
É o esticar na cama do corpo que se recusa
a obedecer às ordens que do cérebro lhe vêm,
o esticar-se na cadeira longa ou no sofá
que está mesmo ali esperando o corpo,
o olhar o céu sentindo o calor do sol
e deitar na relva quente por ele acariciada.
É a preguiça!
Aquela vontade imensa de nada fazer, mas tudo sentir,
desde que seja o prazer que o corpo consente
e que a alma agradece e reconhece entusiasmada.
A preguiça é assim também,
uma grande concentração de prazer!
Com a devida vénia me vergo
à evolução da vida que está diante de mim, a tua.
Sinto o dia-a-dia do teu crescimento,
o alongar do teu mundo pelo conhecimento
que pela experiência vais adquirindo
e pelo que anseias sempre ver mais.
Cansas e cansas-te pela tamanha energia que despendes,
quando finalmente deitas a cabeça neste velho peito
e te sinto no piscar de olhos sonolentos,
vejo a tua pequena mão volteando em busca do meu rosto
onde os pequeninos dedos se vão enrolando numa
barba quase feita para teu deleite, esticando até à dor do puxão.
Não sinto mais do que a sensação de enlevamento
e exacerbado amor que por ti sinto,
no meu colo adormeces e no peito descansas do cansaço
do teu crescimento e com a tua mão na minha
ficamos os dois abraçados num enlace para a vida.
Sempre, com a tua mão na minha mão.
Com esse dedo que não é anelar
mas que é utilizado para coisa tanta
e em cada mão entre dez das duas,
tens dois, um na direita e outro na esquerda.
Com ele se indicam direcções e se apontam objectos
e outras mais coisas que tantas serão.
Quando em riste… assustador!
Nos prazeres, companheiro e na leitura excepcional,
basta humidificá-los nas pontas que logo se poem ao trabalho,
fazem cócegas e viram páginas, umas atrás das outras,
abrem livros e participam em aventuras sem fim.
Tanto que se pode fazer quando se tem dedos tão versáteis
com uma utilidade amplamente reconhecida.
É um dedo indicador, são dois, um à esquerda outro à direita,
como tal, indicam, apontam e ainda,
exercem milhentas de outras funções!
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