Percebi em Adão a hesitação,
afinal vivia no paraíso.
Mas se Eva assim não pensava,
se ela o atentava com coisas que nem imaginava,
que poderia ele fazer senão segui-la?
Ver pelos seus olhos que outros paraísos existem,
sentir pelo seu corpo que Eva,
afinal, era o próprio paraíso.
Amanheci-me com olhos de sol,
amanheci-me com sede de calor,
amanheci-me com abraços para dar,
amanheci-me.
Abri a janela, alonguei os braços,
acabei abraçado ao sol,
com a esperança aquecida pelo astro rei,
amanheci-me.
Senti a calor do teu corpo
mal nele depositei minhas mãos.
Fizeste-me vibrar,
sentir tremores que o corpo não justificava,
senão pelo calor do corpo teu.
Em sentimentos desencontrados,
em sensações inolvidáveis,
conhecemos o êxtase do nosso encontro.
Ao primeiro olhar se revelaram os sentidos,
Semicerraste os olhos,
Arfou-te o peito,
Mordeste os lábios.
Vermelhos, carnudos e sensuais,
a tentação feita coração em plena face.
E as mãos com que seguravas o prato,
tremeram e agitaram-se.
Depois,
foi tudo o que o tempo e os sentidos permitiram.
Foi assim que me acordaste,
por uma nesga da janela,
entraste sem pedir licença,
espalhaste-te pelo espaço disponível,
encheste-me o quarto.
Não contente,
apontaste teus raios,
directamente à minha cara,
obrigaste-me a acordar,
e que bom foi fazê-lo contigo por perto.
O calor e alegria que transmites,
faz com que o dia seja,
à partida,
um excelente dia.
Reprimir as ideias,
reprimir os sentidos,
reprimir o ser que somos,
não é mais que reprimir a vida,
que nos formata,
que nos reprime,
que nos compacta,
que nos retira a capacidade de sermos “eu”.
Olhas para o mundo com a admiração
de quem acaba de nele entrar.
Abres os olhos de espanto,
pelas maravilhas que eles te retratam.
Serás amparada e encaminhada,
tanto quanto possível for.
Depois será contigo,
irás conhecê-lo melhor,
entende-lo de formas diversas e,
terás de o moldar à tua percepção.
Vive, mas não permitas,
que te escureçam o mundo em que acreditaste.
Dizem que sim, alguns,
outros há que dizem que não,
nesta dualidade vamos caminhando.
Esta diferença que faz a diferença,
aceitar os outros,
aceitar o que os outros gostam,
aceitarem o que nós gostamos.
Talvez sejamos seres civilizados,
se assim procedermos.
O grande problema são os sinais,
que vêm contrariando estes princípios.
Pelas esquinas da vida
nos vamos arrastando.
Umas arredondadas,
outras afiadas como punhais.
Em cada esquina uma novidade,
em cada uma a esperança dobrada,
em todas elas uma vida vivida,
uma vida a viver.
Pela guerra se constrói a paz.
Pela paz se alcança a guerra.
Mas a guerra acontece
quando a paz apodrece.
Quando o horizonte da esperança humana
se esbate na conveniência bruta,
de quem da guerra faz negócio.
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