Porque olho o horizonte
e dificilmente distingo para lá das sombras
que ao longe se opõem ao meu olhar
dispersando os sonhos que antes ali bailavam,
já não perco o meu olhar deslumbrado
a juntá-los peça a peça.
Olho o horizonte,
só por olhar,
não espero que me traga novidades
que sejam diferentes das que me tem trazido.
Houve um tempo em que não tivemos noites,
não podíamos,
éramos pecadores e nem nos confessávamos,
porque o segredo, o nosso segredo,
consistia no anonimato.
Mas houve tardes,
e tantas que se tornaram poucas
para extrair todo o pecado que em nós morava.
E pecámos.
Sucessiva e consequentemente,
em tardes inteiras que acabavam ao anoitecer,
em dias que fazia chuva e frio,
em dias em que o sol abundava,
mas no recanto do nosso pecado o frio era uma constante
e só assim se compreende que nos abraçássemos,
tão arrebatadoramente nos agarrássemos
e que assim consumássemos nosso pecado.
Faz frio e já fez calor em abundância,
mas este corpo sente agora,
as temperaturas que o conservam.
Um corpo, nada mais,
que parece um termóstato,
ora incha de calor,
incomodado com a cozedura,
para logo se encolher quase à posição fetal,
de tanto arrepio temperado.
Faz frio ou faz calor,
Estica ou encolhe,
mas o corpo é o mesmo,
é ele que sente esta mudança,
como todas as mudanças a que está sujeito.
Na noite crescem os temores,
da escuridão da solidão,
do vendaval dos pensamentos,
que arrastam anseios e desejos.
Na noite surgem os fantasmas,
da vida já vivida,
da vida do futuro,
que transporta a incerteza.
Na noite esquecem-se,
os azedumes do dia,
as promessas incumpridas,
que amarguram o presente.
Na noite escondem-se,
as proibições da luz,
aquecem-se os amantes,
desabrocham os amores.
Como zangão esvoaço,
sobre a colmeia de teu corpo dourado,
e na ponta de teus seios,
bebo as gotas do mel que o cobre,
percorro-o e provo
o favo mais doce da tua colmeia.
No luar do teu olhar,
naufrago nas noites frias.
Com as gotas do teu suor me inebrio.
E nas curvas do rio que és,
anseio pelo turbilhão da catarata,
em que me hei de afogar.
Tua pele não era seda,
mas ao tacto, aveludada,
de um tom rosa pálido,
ainda não tocado pelo sol.
No peito,
dois botões de rosa,
pequeninos,
eriçados,
vibrantes de emoção.
No coração,
a grandeza de ser mulher,
com o turbilhão de emoções,
que tudo alberga,
e a todos protege.
Éramos muitos,
para aí uns dez ou mesmo mais,
íamos agora tirar a prova dos nove,
seria que era tão grande como parecia?
Demos as mãos,
começámos a rodeá-lo,
braços esticados,
mais esticados ainda,
não chegávamos,
precisávamos de mais um ou dois,
e sempre em esforço, bem esticados,
conseguimos rodeá-lo.
Era enorme na verdade,
chegámos aos dez e só assim o rodeámos.
Afinal a fama do embondeiro era verdadeira,
eram precisos muitos homens,
encostadinhos a ele, bem esticados,
para lhe sentirem o coração.
Não te olho por cobiça,
sei que és uma estátua cinzelada por excelente escultor,
mas não é isso que eu vejo quando para ti olho.
Procuro ler-te nesses olhos inconclusivos,
quero ter uma sensação de te abrir o coração,
aprisionar os teus pensamentos,
adivinhar o que procuras.
Ao teu corpo, esbelto,
desejo outras volúpias,
aquelas que nem as mãos conseguem esculpir,
mas que os olhos não deixam escapar.
Num céu escuro
de onde sobressaem as estrelas,
luminosas, brilhantes de piscadelas,
apareces, lua,
não sei se em quarto,
mas em fatia.
Muito fina e delgada,
elegante na aparência,
espalhas o teu brilho,
ofuscas as outras estrelas
e brilhas,
brilhas como só tu o sabes fazer.
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