Sol de frente (2011)
canetadapoesia
Bates-me de frente,
encandeias-me a vista,
deixo de ver as sombras que projectas,
não consigo distinguir os teus contornos,
mas contínuo a apreciar o teu calor.
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canetadapoesia
Bates-me de frente,
encandeias-me a vista,
deixo de ver as sombras que projectas,
não consigo distinguir os teus contornos,
mas contínuo a apreciar o teu calor.
canetadapoesia
Se vais por aí,
tomas o caminho contrário,
pois eu vou por aqui.
Deste modo,
jamais nos encontraremos.
canetadapoesia
E se te custa muito,
não digas nada,
não faças nada,
deixa-me só,
silencioso como sempre.
Olhando o céu azul,
assistindo ao pôr do sol.
Só e silencioso,
como sempre.
canetadapoesia
Vagueio pelo vento
que te envolve.
Vagueio pelos teus cabelos
que se levantam e ondulam pela sua força.
Vagueio pelo teu corpo
que se arrepia à sua passagem.
Vagueio por ti
que te acolhes em mim.
canetadapoesia
Que dentro de si tem todo um mundo
é único, não existe outro assim,
é um país que dentro de si toda uma diversidade.
Há por aqui uma rua que tem um nome,
chama-se rua da Angolana,
até aqui tudo certo, um nome como qualquer outro.
Mas acontece que esta rua é especial,
não por ser da Angolana, mas por ser por si só um universo.
Nesta rua há especialidades chinesas e mais todas as orientais,
especialidades africanas e mais as sul americanas,
europeias são as que se queiram,
pode até comer-se um célebre cozido à portuguesa,
isto depois de uma boa moambada.
E ainda acham que Portugal é pequenino?
canetadapoesia
Olho o céu e vejo estrelas,
longínquas, brilhantes e sedutoras,
e nos momentos de clarividência,
reparo que têm uma missão importante,
são aglutinadoras de sonhos.
Olham-nos do alto da sua distância,
distraem-nos com seu brilho intenso,
piscam-nos os inúmeros olhinhos, intensamente,
e escutam os nossos sonhos,
absorvem os nossos pensamentos,
sobretudo, acolhem os sonhos que,
pela vida fora nos assaltam,
os sonhos sonhados e não realizados,
os sonhos do sonho de ser humano e sonhar.
canetadapoesia
Anda ver o sol,
aproveita agora que se vai deitar,
repara nos seus raios incandescentes,
estão mortiços,
cansados de iluminar o mundo,
merece o descanso para que,
amanhã,
acorde radioso e nos encha dos seus revigorados raios,
fortes e quentes,
como o teu corpo em volta do meu,
amarelos como os olhos teus
e tão envolvente,
como o abraço que de ti recebo.
Anda ver, anda ver o sol que se vai deitar.
canetadapoesia
Ninguém duvidava que era negra,
a cor da sua pele não o permitia,
estava-lhe nos genes.
Negra, filha de negros.
Um avô transmontano vincou-lhe os traços
e na sua pele escura
luzia o mais branco dos negros.
No seu negro corpo,
residia a beleza ímpar da mulher transmontana,
também ela uma mistura,
de Celtas, Iberos e outros mais,
mas os seus olhos verdes não desmentiam,
que o sangue Celta,
atravessara montanhas, planícies e cruzara os mares,
criando a beleza única da mulher,
negra e de olhos verdes.
Uma deusa do Olimpo da beleza
com o corpo de mulher negra.
canetadapoesia
Não havia maçãs, nem uvas,
no meu bairro havia outras frutas,
havia gajajas, maçãs da índia,
havia mamões, papaias e mandioca,
bananas e mangas em profusão.
Não muito longe havia outras delícias,
tais como carambolas, safús,
e a fruta pinha crescia sem reservas,
também havia ananases e abacaxis.
Pitangas eram as que se queriam,
e se umas eram amargas,
outras desfaziam-se em doçuras,
e por falar em doces,
já me esquecia que também havia cana de açúcar.
E como vêm,
no meu bairro havia de tudo,
porque o meu bairro era um mundo,
imperfeito talvez,
mas o nosso mundo em que nada faltava.
Era o meu bairro.
canetadapoesia
Da janela do meu quarto,
via a luz do quarto dela,
e por mais que me esforçasse,
nada mais distinguia.
Mas vendo a luz que emitia,
a tão tardias horas,
descansava a alma,
sabendo-a em segurança.
Daquela janela via um mundo,
que era meu,
do qual não falava,
mas que me dava,
a tranquilidade do entardecer.
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