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Caneta Da Poesia

Caneta Da Poesia

20
Jan20

Em simultâneo (2011)


canetadapoesia

 

 

E se eu gosto de comer,

sentir o sabor de cada porçãozinha

que cuidadosamente coloco na boca,

a textura, a maciez, o sabor a terra ou a mar.

Está picante? Então é bom, faz bem ao coração,

dizem as línguas que soltas pelo vinho

me aconselham comummente a usá-lo,

esquecendo que desde pequenino o faço com prazer,

agora ainda lhe acrescento a pimenta,

que é uma homenagem aos navegadores

que em tempos que já lá vão,

na memória do esquecimento mergulhados,

passaram as passinhas do Algarve para no-la trazerem,

e eu, guloso e prazenteiro, aplico-a em doses generosas.

Mas a comida só sabe realmente bem

quando em boa companhia,

fazendo escorrer em simultâneo

o néctar que alegra a gula,

e a palavra que engrandece a alma.

19
Jan20

Vácuo (2011)


canetadapoesia

 

 

Olho-te sem te ver,

passas-me à frente e nem noto,

mas tenho de te ter ligada,

para fazer ruído, ou companhia,

debitas sons estranhos a meus ouvidos,

palavras soltas que nada me dizem e

verberas em discursos pomposos

de uns e outros ditos eruditos,

e eu nada, não te ligo nenhuma,

és um vácuo total na minha retina.

Na maior parte das vezes estás ligada,

e eu desligado de ti, sem te ver,

com estes olhos que vêem o mundo,

por um prisma muito diferente,

sem imagens distorcidas nem parangonas,

pelos livros que leio enquanto estás ligada,

e por isso, volta não volta levanto-me e

trás, catrapuz, desligo a televisão.

18
Jan20

Num lugar especial (2011)


canetadapoesia

 

 

Ali estava, num lugar especial,

sentado de frente para o mar,

na varanda de sua casa,

sua, porque a construiu ele,

com restos de outras casas,

com bocados de outras vidas,

mas esta era a sua e virada para o mar.

 

Acordava com o sol a entrar-lhe pela janela,

deitava-se com a luz que o luar,

sempre prazenteiro e sem receber nada em troca,

lhe depositava no que ele chamava os seus aposentos.

 

Não fora aquela inclinação agreste,

aquela estreita faixa de terra tão mal escorada

que de varanda lhe servia

e seria perfeita,

mesmo sem água corrente,

mesmo sem electricidade,

ainda assim era a sua casa.

 

E um dia chegaram uns senhores,

que não podia ser, que era impróprio,

ter uma casa na encosta,

virada ao mar e com uma vista destas,

nem sequer estava legalizada,

não pagava impostos nem água, nem luz.

 

Foi despejado, arrasada a casa.

No seu lugar, já com outras mordomias,

nasceu um condomínio privado,

onde pagavam tudo o que se exigia

nas sociedades modernas e bem-comportadas,

e ele trabalhou na sua construção.

 

Mesmo ali, onde era a sua casa,

virada ao mar, sem luz, sem água.

 

Ao fim do dia regressava à nova casa,

no vão de um viaduto,

por onde passavam diariamente,

todos os que iriam viver no nove condomínio.

18
Jan20

Asas (2011)


canetadapoesia

 

 

Liberta-te dessas correntes que te prendem ao chão,

eleva-te homem, ganha asas e voa,

deixa para trás o que te atormenta,

esquece os maus momentos,

engrandece os bons e,

quando te sentires leve o suficiente,

abre essas asas que só o consegue

uma alma do tamanho do universo,

e sobrevoa, bem no alto,

toda a tristeza que te envolve.

17
Jan20

Por esta passagem estreita (2011)


canetadapoesia

 

 

Entre o ser e o ter vai alguma distância,

e sou, mas não tenho,

e caminho nesta vereda verde

que me leva a uma estreita passagem,

tão curta que a tenho de cruzar de lado.

Vai-se apertando,

fazendo sentir na carne a sua estreiteza,

tolhendo futuros risonhos,

glorificando amanhãs incertos,

reduzindo-nos ao pó que nos há de,

com ventos favoráveis,

espalhar nessa passagem mais lata do universo.

15
Jan20

Escura como breu (2011)


canetadapoesia

 

 

Vejo que te aproximas lentamente,

e a dado momento,

corres com maior velocidade.

E vejo-te descer sobre a terra,

adormeceres o sol,

e num repente,

és escura como breu.

Sinto-te nos olhos que pestanejam,

acolho-me ao quente dos lençóis,

e a noite cobre-me das estrelas que despontam,

brilhantes e cintilantes no piscar,

para que meu sono seja sereno.

15
Jan20

Porque escrevo? (2011)


canetadapoesia

 

 

Ponho-me para aqui a escrever,

e escrevo, reescrevo e depois?

Afinal para que me serve tanta escrita?

Sinceramente, não sei!

Mas sei que quando escrevo me liberto

de absurdos pensamentos,

de pecaminosos pensamentos,

ou será que escrever é pecado?

Aparece-me cada dúvida existencial que,

mesmo eu me admiro de tanta abominação.

Mas escrevo!

Procurando com meus escritos

atingir o patamar em que,

pelas letras que imprimo,

me transforme num ser,

que não sendo superior,

será certamente melhor.

Já sei porque escrevo!

13
Jan20

Carneirinhos (2010)


canetadapoesia

 

 

Esbatem-se em alva espuma,

os carneirinhos do mar,

contínuos e incansáveis,

onda atrás de onda,

encapelam-se e crescem,

seguem a rota até à praia.

Avolumam-se ao longe,

de um mansinho enrolado,

descaem oceano fora,

em busca das areias sedosas,

das praias de Portugal.

12
Jan20

Futuros ansiosos (2011)


canetadapoesia

 

 

No encontro, a explosão,

no abraço, a imensidão,

no beijo, a ilusão,

no amor, a conclusão,

na separação, a saudade.

Que de futuros ansiosos,

nada podemos adivinhar.

11
Jan20

Computadores (2011)


canetadapoesia

 

 

Encontro-me com o mundo,

pelas teclas do meu computador,

portátil assim o designaram,

mas não consigo andar com ele,

sem que esteja ligado à corrente eléctrica.

Mas não me traz boas notícias,

é a crise, são os suicídios,

é a indignação generalizada por esse mundo fora,

é a tristeza completa de quem pouco mais aguenta.

A conclusão a que chego,

nas minhas elucubrações,

é que já não se fazem computadores,

como antigamente,

em que só víamos o futuro brilhante,

pelas teclas que pressionávamos.

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