Sentado à volta do verde,
das plantas que me cultivam,
divirjo o olhar para um vazo,
acabaram de rebentar mais duas,
plantas exóticas, talvez,
nasceram da paixão
que nelas depositaram minhas mãos,
uns simples caroços, sementes.
Crescem desbragadas,
viçosas, mais duas mangueiras,
e para quê? Pergunto,
se não tenho espaço para as criar?
Não sei responder,
é um impulso,
fazê-las crescer, vê-las desenvolverem-se,
são estas mãos que abarcam a vida,
são estes olhos que não se cansam de as ver desabrochar.
Deita a cabeça e descansa,
no recôndito do meu ombro,
aqui,
mesmo ao lado do coração,
sente-o bater pausadamente,
sente-o disparar em tropel desgarrado,
sente-o,
quando ele, por perto, te sente também.
Não importa que seja rápido,
não importa que não haja tempo,
o que importa é que exista,
o que importa é o momento,
o que interessa é que no preciso segundo,
em que teus lábios encontrem os meus,
o tempo se conte em séculos de paixão.
De entre tantos que por ali esvoaçavam,
aquele era especial,
era um pardal só,
não andava com o bando,
sabe-se lá porquê,
preferia o voo solitário,
sempre mais silencioso.
Mas também era especial,
porque me escolheu a mim,
era o alvo da sua pesquisa,
quem sabe como mecenas da sua refeição.
Era um pardal especial,
teve uma refeição a condizer.
Vermelho,
quando o vejo.
Quente,
quando o sinto entre os dedos.
E ferve,
quando impossibilitado de gritar
o interior da minha alma,
o sinto em ebulição extrema,
rasgando veias,
abrindo caminhos,
sangrando sem se ver,
porque a injustiça,
também pode ser invisível ao olhar,
mas o coração sente-a,
e sangra silenciosamente.
É o que é,
e sente os cheiros e os odores,
mas não me engana,
não engana não senhor,
tem todo o ar de ser aquilo que desconfio que seja.
Perdeu-se no tempo a origem,
não se perdeu outra descendência,
que vem de um País,
que vem de onde se concentraram,
que vem das terras Beirãs.
Mas a sua verdadeira origem,
é muito mais profunda,
vem do mundo,
vem de outros mundos,
remonta à antiguidade,
e por muito que olhe vejo-o sempre como acho que é.
Devia estar em terras do oriente.
Dentro do seu mundo interior em ebulição,
controlava todos os seus anseios, as suas desilusões,
não chorava, mas fervia.
Nada transparecia do que lhe ia no íntimo,
mas mantinha o lume aceso,
e esperava,
que por um acaso da vida
a oportunidade lhe surgisse,
vinda sabe-se lá de onde,
mas uma oportunidade,
uma só,
bastaria para que a explosão se desse,
e desse vulcão se soltasse
a tão ansiada libertação.
Que ias dando cabo de mim,
não tenho dúvidas,
suava as estopinhas para separar os teus cantos,
quase chorava para ler a tua poesia,
no entanto eras Portugal.
Cantaste a gesta deste povo,
encantaste os que deste rincão se fizerem maiores,
e que mesmo assim,
não te valorizaram como merecias.
Camões, o poeta zarolho,
és o poeta de Portugal.
Na noite fria da serra,
por entre neblinas e escuridão,
entre o verde da floresta escura,
o uivo do lobo faz-se ouvir ao luar,
e o arrepio que causa senti-lo por perto,
destitui o humano que em nós existe.
Fora destas paredes nada é como parece,
fora destas paredes reina a desilusão,
a noite da ignorância, da intolerância,
a noite da profunda escuridão.
Espalha-se como um orvalho viscoso,
nas paredes exteriores e nas pessoas,
descobrem-se no discurso cauteloso,
confirmamos nas consciências adormecidas.
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