Numa folha de papel,
branco e imaculado,
do normal tamanho A4,
deixei tombar umas letras,
soltas e sem ordem,
misturadas de vogais e consoantes.
Abanei cuidadosamente,
por mágicas artes e imperceptíveis cuidados,
aquelas simples letrinhas,
dançaram perante meus olhos e
começaram a juntar-se.
Aglomeraram-se em grupos e formaram palavras.
Percebi que, afinal, as entendia
e na cadeia animal, no topo me coloquei.
Abomino quem fala por mim,
ainda que não consiga,
mesmo que não tenha
ou sequer que não queira
tirar-me da boca as palavras.
Deixem que seja eu a falar,
ainda que não consiga,
mesmo que articule mal,
quero que sejam as minhas palavras
a contar o que minha alma contém.
Vai e volta,
aqui te espero,
uma certeza me acompanha,
se o não fizeres,
foi escolha tua,
que os meus braços longos e abertos,
se manterão na mesma posição.
Dependendo de quem seja,
pode ou não singrar,
e se o nome ou a estirpe
no rosto se patentear
o caminho se abrirá em rosas,
perfumadas e não espinhosas,
será leve e solarengo,
sem nuvens nem sobressaltos,
que se atrevam a atrapalhar-lhe o brilho.
Choro-te no ombro,
secas-me as lágrimas,
olhas-me nos húmidos olhos.
Um sorriso me aflora,
e a dor esconde-se,
mais fundo no coração.
Em largas senhorias se aconchegam,
nas caras óculos escuros que escondem
uns olhos que nada querem ver.
Nos largos cadeirões de cetim acolchoados,
sentam os traseiros rechonchudos,
e enquanto à míngua de pão
seus súbditos definham,
com carantonhas bochechudas
enchem de palavras lindas os écrans.
Já ninguém neles acredita,
mas à força de insistirem
enganam-se a si próprios
com parangonas impossíveis de absorver.
Pelo Estado dizem, pelo País vociferam,
que bem precisa e é urgente,
e o povo já sem força agoniza na canção.
Porque um amigo é algo de insubstituível,
a amizade não olha a credos,
não liga a políticas,
não se importa com opções,
não lhe interessa as regiões nem as nacionalidades,
a palavra amizade
diz tudo de per si,
por isso somos amigos,
daqui e de todo o mundo,
por isso nada no universo nos afasta,
desta amizade que nos acompanhará,
do primeiro ao último dia,
das nossas vidas de amigos.
Se achas que um homem simples,
sem grandes pretensões aos tronos da vida,
te serve como companhia,
então sou eu.
Nu das pretensões mundanas,
simples nos aspectos da vida,
amante nos momentos de luxúria.
Sou eu, que assim me vejo,
sou eu que assim pretendo ser.
A ti te digo,
que me apaixonei sem reservas,
que me associei sem rodeios,
que te tive como amigo
antes mesmo de o ser.
E por isso,
também te digo,
que me doeu profundamente
o quebrar de um laço
que julgava imutável.
Fecho a concha,
isolo-me dos que apregoam a amizade
e logo a traem
na perspectiva
ilusória,
de outros futuros ganhar.
Fecho a concha e fico com a asa ferida.
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