Atiro palavras ao vento,
no redemoinho que encontram
juntam-se e criam coisas extraordinárias,
sem sentido, talvez,
mas eu sinto-as, entendo-as e regozijo-me com elas,
e lembro-me da mágica frase da canção,
“you can do magic”.
Assim as entendo, como magia.
Já vou indo que são horas,
faz-se tarde e tens obrigações,
que as minhas limitam-se a estes momentos
da brutalidade do desejo contido que,
com a mestria que demonstras,
sacias sem mais me pedires senão
que retorne no dia seguinte.
Oiço o apelo,
não quero resistir-lhe,
porque o campo e o verde,
são há muito a minha opção,
a minha esperança humana.
Mas a vida não se compraz,
e do verde que abraço,
ao deserto citadino me devolve.
Na tua fértil imaginação de criança criaste a solução
de um presente que me havias de ofertar.
A embalagem moldaste em matéria de prata,
fizeste um saquinho de papel prateado
dentro do qual guardarias a surpresa.
Chegaste-te a mim e disseste…
esta é a minha prenda pelos teus anos.
Olhei-te de olhos já meio humedecidos porque,
ali vinha um presente dos que não se esquecem pela vida fora.
Segurei o pequeno pacotinho de mãos trémulas,
abri-o e vi que lá dentro,
vinha uma das minhas maiores alegrias,
um papel dobrado em quatro escrito pelas tuas mãos e nele…
um poema por ti criado.
Foi a melhor prende que alguma vez desejei receber.
Dos olhos húmidos caíu uma furtiva lágrima que espero,
ninguém tenha notado, porque era a alma a agradecer-te.
Ao longe, muito ao longe,
ficaram os desenfreados ardores,
de uma cidade de betão armada.
Aqui, no campo, da pedra como construção,
ressaltam os amores,
do verde como opção,
da sombra que protege,
da vida que se esboça,
em cada novo botão florestal.
Pelo Porto passei,
pela Maia andei,
pelos seus passeios cuidados,
vi jardins, verdes, de uma relva tratada,
por ali andavam comboios, o metro assim se chama.
E no belo aeroporto,
de uma moderna escultura,
me refresquei do ardente calor
que o sol teimava em me enviar.
Dos vários sons que lhe enchiam a cabeça
neste deserto de verde composto,
o das cigarras, ao anoitecer,
e dos pássaros, ao entardecer,
eram os autênticos protótipos,
do paraíso em que se sentia.
Nem noite nem dia,
assim a modos que um entremeio.
Subindo a serra devagar,
sem pressas,
mas de olhar atento,
começavam a despontar,
num enorme e limpo céu,
uma miríade de estrelas brilhantes
cujo cintilar aumentava com a chegada da noite.
Um espectáculo digno de deuses,
a que este ínfimo mortal,
quiçá por sua explícita vontade,
teve o privilégio de aceder.
Só uma mão especial podia pintar um quadro assim,
milhões de estrelinhas invisíveis ao olhar humano,
mas que no seu conjunto escrevem
no céu da noite escura, uma estrada.
O caminho de Santiago!
À sua volta, acompanhando a rara beleza,
todas as estrelas e constelações.
No nosso íntimo a certeza de que,
só uma mão especial podia pintar tal quadro.
Olhar-te assim abrilhantado,
descobrir no teu seio,
as constelações da infância,
as estrelas e os planetas,
é regressar ao tempo,
da incredulidade e da inocência.
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