A guarda de passagem de nível (2019-04-05)
canetadapoesia
A noite está escura, chuvosa, o vento que não amaina
os assobios vão-se tornando ameaçadores,
na mesma proporção em que cai a água,
não impedem o aparecimento da figura esguia
quase irreal da mulher que de negro veste.
Enrugada pela intempérie,
um simples xaile de lã lhe serve como agasalho
e tapa-chuva que não tapa e ensopa o corpo.
Caminha trôpega pelo carreiro cumprindo a missão de vigia
de uma passagem que em breve, automatizada,
passará a dispensá-la desta tarefa de segurança.
Nas mãos os instrumentos de trabalho de uma vida
de solidão, responsabilidade e ingratidão,
a lanterna e a bandeira vermelha que indicarão a via livre
por onde o monstro de ferro caminhará seguro do seu trajecto
porque ela, a guarda de passagem de nível, assim o propiciou
com o sacrifício de uma vida de privações e solidão acrescida,
longe dos seus, longe da vida, afastada do mundo!