Numa manhã (2020-01-05)
canetadapoesia
Não é que precisasse ou mesmo que alguma urgência,
daquelas mesmo urgentes, o incitasse a tal.
O tempo que andava incerto,
por mor, segundo anunciavam,
das inqualificáveis maldades que o homem,
esse eterno culpado,
(pelo menos desde que mordeu a maçã que Eva,
pudicamente, guardava no seu paraíso),
tem vindo a inculcar maleitas e outras idênticas coisas
nesta atmosfera quase irrespirável
que ainda vamos dolosamente suportando.
Ainda assim, incerto o tempo,
pouco certa também a vida,
despejamo-nos no nevoeiro cuja densidade e opacidade
nos permite verificar que, a um palmo de distância da cara,
certamente sentiremos a firmeza do concreto,
(daquele com que se constroem casas),
E descobrimos que na cidade ainda há refúgios,
pequenos cubículos onde,
a troco de um café fumegante e quente,
que nos transporta para os rugidos da África mãe,
nos podemos acolher da intempérie.
Somos assim! Bichos do mato!
Largados nas cidades selvagens e tão desertas de “quente”
que nos sentimos sempre na frente do predador.
Sentados então, em acolhedor ambiente,
“devaneamos” por aí em pensamentos soltos e libertos,
há muito emancipados, rebeldes e incansáveis na sua busca,
por não sei bem o quê ou porquê, mas,
em palavras misturadas na recriação da vida
assim vamos circulando entre a recriação desta vida
e das outras que se sonham num café e várias palavras.
Sonhos que já sonhámos e que agora,
depois do temporal da vida,
nos vão sonhando num arco-íris de cores inolvidáveis…
vistos da janela de um café…